domingo, 18 de setembro de 2011

Os caminhos da interdisciplinaridade

Esta postagem é baseada na vídeo-aula ministrada pelo Prof. Ulisses Araújo (USP), para o curso de pós-graduação semi-presencial "Ética, valores e cidadania na escola" (EVC). As informações do vídeo utilizam como referência a obra do antropólogo e filósofo francês Edgar Morin.

Considerando que, apesar de estarmos em pleno século das novas tecnologias, diversidades e concepções da realidade (virtual ou natural), ainda existe a prática de buscar o conhecimento com o que Edgar Morin descreveu como o pensamento simplificador, baseado nos pensadores considerados modernos. Vale lembrar que o termo "moderno" refere-se ao recorte histórico do qual participa, por exemplo, o filósofo Descartes (século XVII). Apesar de geralmente o termo ser usado para o que é atual, para a História ainda se refere à posterioridade das viagens de Colombo ou da queda de Constantinopla.

É mais adequado utilizar-se o "contemporâneo" para definir os tempos atuais (apesar do recorte também referir-se à Revolução Francesa) mas, ainda nesses tempos considerados atuais continuamos modernos quando, por exemplo, buscamos conhecimento através da disjunção, separando-o em disciplinas ou áreas específicas, como se cada engrenagem do relógio ou cada músculo do nosso corpo funcionasse de maneira independente, sem considerar o todo. Da mesma forma, ainda segue-se o pensamento simplificador moderno quando se considera o funcionamento de uma dessas partes para explicar o todo, fazendo a redução do complexo ao simples; e dessa maneira cometem-se erros também no ambiente escolar, quando os conflitos do cotidiano levam a explicações simples para problemas complexos que, momentaneamente, geram uma solução efêmera, senão posteriormente agravante do problema. Finalmente, numa tentativa de corrigir o pensamento simples, a abstração pode formalizar o conhecimento, quando se juntam todas as engrenagens ou o corpo humano começa a correr de forma a movimentar boa parte da musculatura: as partes se agregam de forma compreensível para a geração do conhecimento.
Fonte: blog "Os muros da escola"

Entretanto, esta última não é o suficiente para superar-se o pensamento simplificador. Para deixarmos de ser modernos e aproximarmo-nos mais do contemporâneo, Morin pode nos ajudar quando se refere a outras formas de construir, aprimorar e chegar ao conhecimento. Uma delas seria a transdisciplinaridade, que pode ser perfeitamente explicada através do exemplo dos atuais Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN's) do Ministério da Educação, quando sugerem os "Temas Transversais" que ultrapassam a própria articulação entre as disciplinas e, muitas vezes, considerados como fontes de novas disciplinas (apesar de não existir essa necessidade).
Ainda nos referencias pedagógicos, encontramos muitas sugestões de projetos que envolvam várias áreas do conhecimento. Porém, ao colocá-los em prática, deve-se tomar cuidado para não executar de forma equivocada a multidisciplinaridade, a qual busca conhecimentos diversos para analisar um fenômeno, mas muitas vezes é executada sem diálogo entre as disciplinas envolvidas, o que pode ser superado através da interdisciplinaridade e, dessa forma, utilizar conhecimentos já construídos para explicar os fenômenos e, com o diálogo entre as áreas, constituir novos e atualizados conhecimentos de forma crítica e esclarecedora.

Eduardo Carvalho
Pólo de Praia Grande

sábado, 10 de setembro de 2011

As revoluções educacionais

Esta postagem é baseada na vídeo-aula ministrada pelo Prof. Ulisses Araújo (USP), para o curso de pós-graduação semi-presencial "Ética, valores e cidadania na escola" (EVC). Utiliza como referência a obra de José M. Esteve, A terceira revolução educacional (editora Moderna, 2004).

Entende-se que até os dias atuais existiram três revoluções educacionais. Dentro do processo histórico ocorrido entre essas mudanças, pode-se perceber um legado ainda existente na escola e na sociedade contemporânea.
A chamada primeira revolução educacional tem suas origens no Egito Antigo, de onde se tem relatos das "Casas de instrução", onde os descendentes dos faraós, nobres e sacerdotes eram orientados pela figura do preceptor, aquele que tem a missão de instruir apenas um aluno ou um pequeno grupo deles. Esse tipo de educação encontra-se em outras partes do mundo antigo, por exemplo na Grécia, onde se sabe que no período do Império Macedônico o filósofo Aristóteles foi preceptor do futuro imperador Alexandre, o Grande. Esta relação individualizada de educação pode ser ilustrada por uma obra de Chardin que tem como título A jovem professora, no qual observa-se essa educação exclusiva para apenas uma criança.

CHARDIN, Jean-Baptiste Simeón. A jovem professora, 1736.
National Gallery, Londres.
Considerando que esta pintura data de 1736, conclui-se que este tipo de educação permaneceu por muito além da Antiguidade, permancendo até os anos finais do período Moderno.
Dessa forma, historicamente pode-se explicar como se deu a segunda revolução, a partir do final do século XVIII no processo de consolidação dos Estados Nacionais europeus, quando houve a necessidade de se estabelecerem como nações, procurando suas próprias leis, justiça, governo e uma certa separação em relação ao poder da Igreja. O marco incial para essa nova revolução educacional seria com um decreto do Rei Frederico Guilherme II da Prússia, em 1787, definindo que educação deveria ser pública e de responsabilidade do Estado. Apesar do termo "pública" esse termo não pode ser entendido da mesma forma que nos dias atuais, pois inicialmente atendia somente a alunos do sexo masculino, numa pequena quantidade e situação sócio-econômica homogênea. Assim, na Prússia e em outras nações europeias dos séculos XVIII e XIX não se podia esperar encontrar uma sala de aula com alunos, por exemplo, de famílias rurais, negros ou com necessidades especiais. Apesar do Estado tomar esta responsabilidade para si, esta educação legitimou a exclusão em diversos níveis.

Fonte: Blog "Para entender a história..."

   
Ademais, como se pode perceber nas fotografias, o molde da sala de aula ainda era de um local fechado, como os alunos enfileirados e o professor na posição de detentor do conhecimento, transmitindo-o às crianças. Naquele contexto histórico, essa definição da profissão do magistério é compreensível, pois o acesso ao conhecimento era econômica e culturalmente muito resrito. Entretanto, esse formato de educação se vê de forma muito comum nas salas de aula atuais.
Assim, ainda é muito difícil explanar sobre a terceira revolução educacional sem pensar que ela ainda não é totalmente aplicada, apesar dos esforços teóricos e das tecnologias disponíveis. Essa educação, buscada desde o início do século XX, pretende a democratização e a universalização. Na prática, atenderia às necessidades da "sociedade do conhecimento" e da economia voltada (prioritariamente) ao terceiro setor, além de ser politicamente correta e fazer justiça social. Entretanto, essa educação pretendida ainda encontra inúmeros desafios, que podem ser simplificados na conciliação entre acessibilidade e equidade no espaço escolar, mantendo-se a qualidade. Resumindo, precisa-se reinventar a escola, incluindo no mesmo ambiente as diferenças sociais, econômicas, étnicas, religiosas, físicas, psíquicas etc., de forma que todos tenham acesso qualitativo à educação. Além disso, a figura do professor precisa ser revista, pois o acesso à informação democratizou-se com a novas mídias (principalmente a Internet), necessitando agora de um orientador que ajude os educandos a construir conhecimento.
Ainda falando em desafios, existe a situação em que o referido acesso qualitativo à educação esbarra no quantitativo, pois necessita-se buscar soluções para salas de aula lotadas, convivência, atendimento especial, satisfação de necessidades básicas (alimentação, vestuário, higiene, saúde) num espaço educacional que precisa ultrapassar os muros da escola.
Finalizando, reproduz-se aqui uma idealização de sala de aula que pode ser acessada no site Uma Cidade Interativa (Abril Educação):


É interessante perceber como a maioria das pessoas reage à essa imagem, interpretando que a sala de aula "está uma bagunça", com os "alunos fazendo o que querem" e "quase ninguém presta atenção à professora". Mas, olhando com mais atenção e relacionando às ideias aqui expostas, reafirma-se a noção de idealização mais próxima à educação democrática e universal: alunos com características diferentes, mas tendo igualmente acesso à busca pelo conhecimento, num espaço com estrutura, recursos didáticos, orientação de uma educadora, usufruindo da liberdade para atender aos interesses e necessidades de todos.

Eduardo Carvalho de Almeida
Pólo de Praia Grande