(Contribuindo para a blogagem coletiva - Professores do Brasil)
O conhecimento da educação antiga constitui-se numa das fontes para um melhor conhecimento da cultura contemporânea. Entender sua tradição pedagógica, seu regime e suas aspirações educacionais faz-nos compreender melhor as práticas e ideais educativos atuais, bem como analisá-los e questionar suas estruturas.
Nessa busca, é relevante consultar um livro de 1966, do até então professor da Sorbonne, Henri-Irínée Marrou: História da Educação na Antiguidade. Utilizando a 4ª edição de 1975, nota-se que o livro, como descrito em sua contra-capa, é “um trabalho de síntese erudita, que incorpora e coordena os resultados das mais recentes disquisições efetuadas pela investigação moderna [conforme sua época]”, no campo de conhecimento do tema. Comprova-se essa citação com a vasta e diversa bibliografia, contendo obras que vão desde a Ilíada e a Odisséia de Homero até as contemporâneas do autor, sem limitar-se apenas a fontes sobre educação.
A obra inicia-se afirmando que Homero foi a origem da cultura e educação gregas, com uma análise da Ilíada: citando a época em que foi escrita, bem como o tempo a que se remete (a imagem de uma idade heróica, anterior a de Homero) e seu caráter poético e filológico.
Segundo o autor, a cultura grega foi originalmente privilégio de uma “aristocracia” de guerreiros (anacronismos à parte, “cavalheiros”, como o autor cita), análogos ao cavaleiros medievais em seu refinamento e habilidade. Portanto, é necessária uma educação adequada a essa elite, tendo como figura típica Quirão, o centauro educador de Aquiles. Essa pedagogia é baseada na relação entre pupilo e mentor (esse último como confiado do pai do pupilo), utilizando como texto-base a obra de Homero: um manual ético, um tratado do ideal, a partir do exemplo dos heróis homéricos, como o cultivo da honra, da aspiração pela superioridade, expor-se ao ódio por um fim nobre - a alta idéia da glória.
Sobre a educação espartana, Marrou lembra que, como uma cidade de semi-iletrados onde a prática militar é sua principal característica, a educação heróica de Homero perpetua-se. Com a dificuldade da escassez de fontes especificamente sobre a educação em Esparta - as fontes sobre sua cultura são mais comuns - o autor diz que é essencialmente militar, voltada para a formação do soldado com um ideal coletivo: devoção aos interesses do “Estado”, morrer pelo coletivo, caracterizando, assim, uma outra concepção de honra: resistir numa batalha. A educação espartana não tem por fim selecionar heróis, mas formar uma cidade inteira de heróis. Para tanto, a educação é baseada na prática de esportes (conquistando, assim, grande sucesso nos Jogos Olímpicos), com bons treinadores e inovações técnicas. A música era o centro da cultura, com a dança (ginástica) e o canto (poesia) incluídas na pedagogia, sempre com o objetivo de formar heróis virtuosos.
Esparta foi a predecessora da cultura arcaica, atraía grandes artistas estrangeiros e a vida artística e esportiva era manifestada coletivamente nas grandes festas religiosas. Com a Grécia evoluindo para a época clássica, Esparta resistiu às inovações das outras cidades, estacionando sua evolução e, finalmente, estruturando a severa educação espartana clássica, a qual faz uma espécie de “adestramento” do hoplita, aceitando-se somente crianças fisicamente perfeitas que, a partir dos 7 anos de idade passam a pertencer ao “Estado”, onde ficam internadas até os 30 anos num regime de educação coletiva e vida em comunidade. Essa “criação” praticamente sacrifica o aspecto intelectual, quando mesmo as artes ainda cultivadas eram utilizadas para fins militares e morais. Marrou finaliza com uma crítica negativa à época clássica de Esparta.
Nessa busca, é relevante consultar um livro de 1966, do até então professor da Sorbonne, Henri-Irínée Marrou: História da Educação na Antiguidade. Utilizando a 4ª edição de 1975, nota-se que o livro, como descrito em sua contra-capa, é “um trabalho de síntese erudita, que incorpora e coordena os resultados das mais recentes disquisições efetuadas pela investigação moderna [conforme sua época]”, no campo de conhecimento do tema. Comprova-se essa citação com a vasta e diversa bibliografia, contendo obras que vão desde a Ilíada e a Odisséia de Homero até as contemporâneas do autor, sem limitar-se apenas a fontes sobre educação.

Segundo o autor, a cultura grega foi originalmente privilégio de uma “aristocracia” de guerreiros (anacronismos à parte, “cavalheiros”, como o autor cita), análogos ao cavaleiros medievais em seu refinamento e habilidade. Portanto, é necessária uma educação adequada a essa elite, tendo como figura típica Quirão, o centauro educador de Aquiles. Essa pedagogia é baseada na relação entre pupilo e mentor (esse último como confiado do pai do pupilo), utilizando como texto-base a obra de Homero: um manual ético, um tratado do ideal, a partir do exemplo dos heróis homéricos, como o cultivo da honra, da aspiração pela superioridade, expor-se ao ódio por um fim nobre - a alta idéia da glória.
Sobre a educação espartana, Marrou lembra que, como uma cidade de semi-iletrados onde a prática militar é sua principal característica, a educação heróica de Homero perpetua-se. Com a dificuldade da escassez de fontes especificamente sobre a educação em Esparta - as fontes sobre sua cultura são mais comuns - o autor diz que é essencialmente militar, voltada para a formação do soldado com um ideal coletivo: devoção aos interesses do “Estado”, morrer pelo coletivo, caracterizando, assim, uma outra concepção de honra: resistir numa batalha. A educação espartana não tem por fim selecionar heróis, mas formar uma cidade inteira de heróis. Para tanto, a educação é baseada na prática de esportes (conquistando, assim, grande sucesso nos Jogos Olímpicos), com bons treinadores e inovações técnicas. A música era o centro da cultura, com a dança (ginástica) e o canto (poesia) incluídas na pedagogia, sempre com o objetivo de formar heróis virtuosos.
Esparta foi a predecessora da cultura arcaica, atraía grandes artistas estrangeiros e a vida artística e esportiva era manifestada coletivamente nas grandes festas religiosas. Com a Grécia evoluindo para a época clássica, Esparta resistiu às inovações das outras cidades, estacionando sua evolução e, finalmente, estruturando a severa educação espartana clássica, a qual faz uma espécie de “adestramento” do hoplita, aceitando-se somente crianças fisicamente perfeitas que, a partir dos 7 anos de idade passam a pertencer ao “Estado”, onde ficam internadas até os 30 anos num regime de educação coletiva e vida em comunidade. Essa “criação” praticamente sacrifica o aspecto intelectual, quando mesmo as artes ainda cultivadas eram utilizadas para fins militares e morais. Marrou finaliza com uma crítica negativa à época clássica de Esparta.

Partindo para a transição à educação intelectual, o autor fala das escolas de Medicina e do desenvolvimento da Filosofia - resultando na criação da escola filosófica. Após a crise da tirania, a vida política tornou-se o aspecto fundamental e, a partir de então, a educação visa a formação do político.
Os sofistas exerciam o papel de educadores nessa nova pedagogia. Tem-se no livro a explicação de como realizavam seu ofício e também como faziam para conseguir alunos - originando, assim, a prática das Conferências. Ensinavam a dialética (a arte de persuadir) e a retórica (a arte de falar), bem como a cultura em geral, realizando uma inovação na educação grega. Sócrates (também um educador), fazia oposição à pedagogia dos sofistas; entretanto, entre os próprios sofistas havia divergências: uma contribuição para a evolução da educação.
Dessa forma, entende-se como a educação grega deixou para trás seu caráter essencialmente militar, voltando-se à formação do intelecto e à capacitação para a arte da política. Interessante notar como nossos antepassados clássicos preocupavam-se em preparar seus alunos para a vida, enquanto, passados tantos séculos, nossa cultura contemporânea preocupa-se em formar o “consumidor”, marginalizando a formação do “cidadão”.
Os sofistas exerciam o papel de educadores nessa nova pedagogia. Tem-se no livro a explicação de como realizavam seu ofício e também como faziam para conseguir alunos - originando, assim, a prática das Conferências. Ensinavam a dialética (a arte de persuadir) e a retórica (a arte de falar), bem como a cultura em geral, realizando uma inovação na educação grega. Sócrates (também um educador), fazia oposição à pedagogia dos sofistas; entretanto, entre os próprios sofistas havia divergências: uma contribuição para a evolução da educação.
Dessa forma, entende-se como a educação grega deixou para trás seu caráter essencialmente militar, voltando-se à formação do intelecto e à capacitação para a arte da política. Interessante notar como nossos antepassados clássicos preocupavam-se em preparar seus alunos para a vida, enquanto, passados tantos séculos, nossa cultura contemporânea preocupa-se em formar o “consumidor”, marginalizando a formação do “cidadão”.