terça-feira, 8 de março de 2011

Como ofender de forma despretensiosa e genial

Um incentivo para que eu volte a postar... Levantado a bandeira da liberdade permitida pelos blogs, publico desta vez uma resenha que fiz sobre um álbum, artista e banda que gosto muito. Entretanto, acho que o texto também revela que não consigo fugir das amarras de uma interpretação historiográfica de (quase) tudo.

The Raconteurs é um dos “projetos paralelos” do músico Jack White. Chamo White de músico – e não apenas guitarrista – porque ele é um dos poucos artistas do atual cenário pop que pode manter esse título. Afinal, sua inteligência e criatividade não permitem que ele permaneça apenas em sua banda “oficial”, The White Stripes (na qual faz parceria com a baterista Meg White), mas sim mantenha outras duas bandas e várias participações e featuring’s com artistas do naipe de Jimmy Page e da cantora Loretta Lynn, além de já antigos rumores de uma parceria com o Radiohead de Thom Yorke. Além disso, Jack White sabe como ninguém o momento e o ambiente certo para fazer determinado tipo de som e, o mais impressionante, sua capacidade para fazer hits em qualquer trabalho e estilo que produza. Ademais, sua performance no palco completa meus argumentos para chamá-lo de artista.

Voltando aos Raconteurs, escrevo especificamente sobre o álbum Consolers of the lonely, de 2008. Impressionante, absurdo e ótimo são adjetivos que eu poderia usar para descrevê-lo, mas prefiro dizer que o álbum é ofensivo. Este trabalho simplesmente ofende qualquer nova banda que ambiciona se apresentar como algo novo, a “salvação do rock”.
Nada disso, Consolers... não pretende salvar o rock, mas sim revigorá-lo. Revisitações a estilos antigos, dos ’50 aos ’80 não faltam. E tudo isso com muita técnica e lançando mão de vários recursos e instrumentos diferentes. Lógico, os Raconteurs não são apenas Jack White, pois conta com músicos de alta qualidade: Jack Lawrence (contrabaixo), Brendan Benson (guitarra, vocais e teclados) e Patrick Keeler (bateria).
Tudo isso junto forma algo que há muito não tinha ouvido. Acompanho muitas bandas novas, mas esse álbum conseguiu fazer estilos antigos soarem como novos.
O lado A é simplesmente um escândalo! Riffs, gritos e fortes baterias contrastando com sons cool conduzidos por um piano que parece ter uma conversa de antigos amigos com a guitarra, observados pelo atento contrabaixo e com uma bateria deixando seu recado em momentos pontuais. Numa das músicas, “The Switch And The Spur”, o grupo lança mão de praticamente tudo o que é permitido para se alcançar uma música que sintetize o que escrevi acima. Numa só canção, solos de guitarra e de metais, capela e coros, e até a uma linha de piano que procura acompanhar – e por que não? – imitar o que os metais estão dizendo.
Falei em lado A porque, apesar de ser lançado em CD, fica claro onde termina um lado e começa outro – mais uma vez recuperando uma antiga prática, a de determinar uma ordem das faixas e fazer com que elas permitam perceber um início, meio (clímax) e fim para o lado. A face B é recheada de hits em potencial, que revisitam desde os acordes do folk norte-americano até as guitarras ensurdecedoras do punk londrino, passando por boas lições do rock e das baladas. Destaque para “Top Yourself”, que já correu muito pelas rádios despertando aquele raro sentimento de “Que som é esse? Parece que eu já ouvi mas, ao mesmo tempo, soa tão novo...”, mais uma vez mostrando o talento de White e seus parceiros para fazer músicas boas, mas que podem perfeitamente tocar numa FM sem causar estranhamento para os acostumados com o easy listening e, ao mesmo tempo, conquistar a admiração dos mais exigentes.


The Racounters, em Consolers of the lonely, lançam mão do que há de melhor na música dos últimos 50 anos para criar seu próprio som. O cheiro de silício contrasta o tempo todo com o ar rústico da capa do álbum e das bases, enquanto os acordes com seus solos e riffs contagiantes fazem o papel de criar sua própria identidade para o grupo.

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