quarta-feira, 25 de maio de 2011

José Leonilson: o coração como matéria-prima

"Léo não conseguiu salvar o mundo."...
O Léo em questão é o artista brasiliero José Leonilson e o mundo que, aparentemente, não conseguiu salvar se apresentou a ele primeiramente em Fortaleza, no dia 1º de março de 1957 e, posteriormente, em São Paulo (1961), onde ingressou na FAAP em 1977 e depois partiu em sua primeira viagem ao exterior em 1981. O mundo, enfim, estava para ser salvo. Entretanto, como já disse André Abujamra, "o mundo de dentro da gente é maior do que o mundo de fora da gente" e, no caso de Léo, fica a dúvida sobre qual mundo tentou salvar.
Uma pessoa especial uma vez disse que Leonilson foi "o ser humano mais lindo que já existiu". Ao ouvir essa frase e presenciar a exposição sobre o artista no Itaú Cultural, cheguei à conclusão que também é preciso ser um humano lindo para compreender toda a complexidade do mundo de dentro de Léo.
A referida exposição chama-se "Sob o peso dos meus amores" e está em cartaz até o dia 29 de maio. O destino, sob meu controle ou não, levou-me até lá e descobri uma nova forma de se fazer Arte. Apesar de ser considerado pintor, gravador e desenhista, Léo não só utiliza-se dos objetos mais diversficados (tecidos, sucata, sobras de bijouterias, tinta, linha de bordado etc. etc. etc.), como também nenhuma de suas obras se concretizaria sem a principal matéria-prima, o coração. E este também servirá para que se possa apreciar as obras do artista: não basta olhar, tocar, cheirar... é preciso sentir. Sentir o coração de um talentoso tímido que, além de sofrer todo o preconceito por sua homossexualidade, ainda teve que conviver por dois anos com o conhecimento de ser portador do vírus da Aids.
Está tudo lá: seus sonhos, anseios, desejos, amores frustados e distantes, a família, a doença, o preconceito, os amigos... É interessante perceber que, ao ir a uma exposição para se ver obras, na verdade se viu uma biografia, escancarada, confeccionada pelo próprio protagonista. É latente a presença de pontes sobre rios distanciando cidades, opostos, pessoas, corações. Ainda utilizando mais a sensibilidade e menos o senso crítico, é muito bom (é esse o termo) observar a variação do tamanho das obras, que podem ocupar toda a altura da parede para ficarmos um bom tempo contemplando, ou exigir que apertemos os olhos para enxergar melhor minúsculas montagens e desenhos do tamanho do coração do artista no momento de sua concepção. Pela primeira vez, senti-me à vontade para definir o que um artista estava pensando (sentindo) ao produzir suas obras, pois fica claro que Leonilson quer que façamos isso... E dessa forma, Leonilson nos deixa - e ao mundo - no dia 28 de maio, em São Paulo. Apenas uma data convencionada pelos homens, pois o ser humano continua vivo. Se Léo achou que não conseguiu salvar o mundo - o de fora - com certeza está ajudando a salvar o mundo de dentro de muita gente.



(Com excessão da foto de Leonilson, as obras apresentadas neste post foram fotografadas na própria exposição - era permitido.)

Um comentário:

Suely disse...

Edu,
A sua sensibilidade ao descrever a exposição é comovente. Se você foi tocado da forma que demonstra, é sinal que Leonilson foi mesmo um grande artista.