segunda-feira, 18 de julho de 2011

Artistas viajantes

Na postagem interior, foi comentada a incrível semelhança entre as paisagens do Rio de Janeiro e as reproduções digitais destes cenários para a animação Rio, de Carlos Saldanha. Dessa forma, dá-se prosseguimento ao tema através de alguns dos chamados "artistas viajantes", que produziram pelas regiões do Brasil principalmente entre os séculos XVII e XIX.
Dentre estes artistas, destacam-se aqui as produções da
Missão Artística Francesa:
A invasão da península ibérica por Napoleão fez com que a Coroa portuguesa partisse para o Brasil em 1808. Ao chegar, D. João VI decretou uma série de medidas econômicas e políticas que mudaram a organização social do Brasil. A família real preocupava-se, ainda, em europeizar o Rio de Janeiro. Posteriormente, a queda de Napoleão propiciou a retomada dos laços culturais entre a França e Portugal. À convite da Corte portuguesa, veio ao Rio de Janeiro a Missão Artística Francesa, chefiada por Joaquim Lebreton, e composta por um grupo de artistas plásticos. Dela faziam parte os pintores Jean-Baptiste Debret e Nicolas Antoine Taunay, os escultores Auguste Marie Taunay, Marc e Zéphirin Ferrez e o arquiteto Grandjean de Montigny. Esse grupo organizou, em agosto de 1816, a Escola Real das Ciências, Artes e Ofícios, transformada, em 1826, na Imperial Academia e Escola de Belas-Artes.
Durante os cinco anos em que aqui permaneceu Taunay, o pintor produziu cerca de trinta paisagens do Rio de Janeiro e regiões próximas:
  


Nicolas-Antoine Taunay. Vista do Morro de Santo Antônio, 1816
Debret. O entrudo no Rio de Janeiro, 1823.
Debret, por sua vez, realizou no Brasil uma imensa obra . Fez vários retratos da família real, aquarelas e desenhos sobre o cotidiano da cidade, retratando as atividades dos escravos, dos grupos indígenas e, também, sobre os fatos da vida da Corte. Pintou cenários para o Teatro São João (atual João Caetano) e realizou trabalhos de ornamentação da cidade do Rio de Janeiro, para festas públicas e oficiais, como a aclamação do rei D. João VI. Além disso, foi professor de pintura histórica na Academia de Belas-Artes, tendo permanecido no Brasil durante quinze anos. Um de seus trabalhos mais conhecidos é o livro "Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil", publicado em três volumes.

Desembarque da Princesa Real Leopoldina, de Jean-Baptiste Debret.

As viagens de cientistas, artistas e estudiosos tiveram um grande estímulo a partir de 1817, com o casamento da princesa Leopoldina, filha do imperador da Áustria, com D. Pedro. O grande interesse de D. Leopoldina pelas ciências naturais e pelas artes fez com que, em seu séquito, viesse uma enorme missão de cientistas e artistas europeus para explorar esse “país desconhecido”.
Integrando a comitiva da princesa também encontra-se o pintor austríaco Thomas Ender, que viajou pelo interior do Brasil, retratando paisagens e cenas da vida do povo, em Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. Ender permaneceu no Brasil por 18 anos, período em que produziu mais de 800 desenhos e aquarelas.
Finalizando, fica aqui mais uma sugestão de análise de imagens, priorizando a comparação das paisagens retratadas pelos artistas viajantes no passado e os atuais cenários do Rio de Janeiro. Esta cidade foi escolhida pelo vasto material produzido desde que foi estabelecida como centro político-administrativo do império português - e posteriormente brasileiro -, mas outras regiões também foram retratadas e estudadas da mesma forma. Ademais, a atividade torna-se mais interessante se, além de fotografias e videos, utilizarem-se as imagens geradas para a animação já citada, com a exibição do filme antes de iniciarem-se os trabalhos, ou durante as produções do alunos. A seguir, mais algumas obras de outros artistas estrangeiros:








Clik nas imagens deste post para obtê-las numa resolução maior.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Let me take you to Rio

Frequentemente, presencio pessoas que torcem o nariz quando se fala algo sobre um filme nacional. Talvez isso aconteça porque os potenciais espectadores geralmente dependem das produções divulgadas durante a programação da Rede Globo, com matérias em telejornais ou mesmo incluídas em cenas de telenovelas. Como na maioria das vezes quem vai ao cinema prestigiar um desses filmes se sente no confortável sofá de sua sala, por não conseguir discernir se está assistindo a uma produção cinematográfica ou a uma novela (com os mesmos atores, cenários, qualidade e linguagens), os que se acham críticos chegam à conclusão genérica de que todos os filmes nacionais são de média qualidade.
Sabemos que isso não é verdade e, ao mesmo tempo, também é. Entretanto, péssimas produções existem em todos os lugares (o que dizer de certas comédias “colegiais” americanas?), a diferença talvez esteja nos recursos disponíveis para produção e na capacidade de expandir a divulgação.
Cena do voo de asa-delta ao redor do
Cristo Redentor.
Escrevo tudo isso como prólogo para meus comentários sobre a animação Rio. A necessidade dessa postagem surgiu após ter assistido o filme mais de três vezes (como professor, os meus colegas sabem o porquê) e não parar de pensar sobre esta produção.
Antes de tudo, surgem os comentários negativos: um desenho animado, ambientado no Rio de Janeiro, na época em que a cidade sediará alguns jogos da Copa do Mundo e as Olimpíadas? Será que estão querendo divulgar a cidade para não deixar os estrangeiros se preocuparem tanto com os problemas estruturais destes eventos? Deixo esses comentários para os teóricos da conspiração e já começo comemorando por este ser um filme visto por várias partes do mundo. E qualquer desconfiança se esvai quando se assiste junto a uma criança com seus olhinhos brilhando em ver tantos belos pássaros voando por diferentes cenários do Rio de Janeiro, tão perfeitos em seus detalhes, proporções e cores que nos deixam em dúvida se essas imagens foram produzidas por bytes ou por películas. Talvez por isso o filme também fez os olhos de muitos adultos brilharem.
 Acredito que tudo se deve ao fato de boa parte da equipe de produção ser de origem tupiniquim: o diretor, produção musical, compositores, músicos, todos esses créditos têm nomes brasileiros em sua essência, e nada me tira da mente que este é o motivo por finalmente ver um filme de origem americana ser tão fiel à nossa realidade...

O tucano Rafael tentou ensinar Blu a voar da Pedra da Gávea.

... Não sei se já existe um nome para uma fobia de filmes dublados, mas me incluo nesse grupo, independente da nacionalidade da produção. Mas, geralmente, abro exceções quando se tratam de desenhos animados, pois é reconhecida a qualidade do trabalho de dublagem para animações no Brasil e eu precisava ver este filme em português para melhor aproveitar seu clima. Após matar essa vontade, surgiu outra. Sabe-se que, no trabalho de dublagem, a trilha de sons, ruídos, algumas músicas e vozes de fundo – mantidas no original – acabam por ficar num volume ligeiramente mais baixo e numa frequência diferente para dar vez às vozes dubladas. Assim, ouvi algumas vozes em português com essas características e ficou a curiosidade sobre as vozes no áudio original. Assistindo ao filme – mais uma vez – em inglês, percebi que não só muitos brasileiros “figurantes” realmente falam em português (o que me surpreendeu nesta produção norte-americana), mas também os próprios personagens dizem algumas frases no nosso idioma, como o canarinho dublado (no original) por Jammie Foxx cumprimentar o protagonista Blu com um “Tudo bom?” e soltar “Aí, galera!” antes de sua frase falada em inglês, no meio de uma festa; além disso, muitas das músicas são um misto de cantores interpretando nos dois idiomas.

Enseada de Botafogo, Baía de Guanabara e Pão de Açúcar.
Outra característica que chama atenção é a fidelidade às diferentes ambientações do Rio de Janeiro. Sem exageros, animais e humanos convivem de acordo com a realidade, cenas urbanas contrastam com florestas, o luxo com a pobreza: temos belas praias povoadas por centenas de guarda-sóis e mesinhas da cor vermelha desgastada nos quiosques, Pão de Açúcar, Pedra da Gávea, floresta da Tijuca, bondinho, Santa Teresa, o Cristo Redentor e também feiras com sua beleza caótica, ruas congestionadas e as favelas. Tudo isso devemos ao diretor brasileiro, Carlos Saldanha (já consagrado pela animação Era do Gelo): qual americano colocaria um jogo justamente de Brasil contra Argentina na história? Lembrando que, concomitante à partida, os vilões percorrem as confusas ruas de uma favela atrás das araras (com nosso diretor indiretamente orientando pelo guru da estética da pobreza, Fernando Meirelles), mantendo a tradição de perseguir aves pela favela na tela do cinema, desde 2002. É admirável como Saldanha conseguiu incluir esses cenários do Rio de Janeiro no enredo, de modo que, em alguns casos, as características do local definem a direção que a trama vai tomar.
O menino Fernando introduz o espectador à
realidades das favelas, que não deixam de
fazer parte dos cenários.
A música também é um fator muito explorado. Talvez não existisse produtor musical executivo mais apto para essa tarefa do que Sérgio Mendes. Há tempos divulgando nossos ritmos de forma moderna pelo mundo, Mendes, juntamente com o experiente inglês John Powell e o percussionista-compositor Carlinhos Brown, fizeram uma trilha sonora (infantil) típica do Rio (atual). Samba, bossa e chorinho extrapolam seus limites aliando-se a raves e até mesmo ao funk para resultar em misturas modernas e com letras (traduzidas ou originais) numa linguagem própria para crianças. O ritmo musical, inclusive, define alguns personagens, como o tucano sambista (aposentado) Rafael, o canário malandro Nico e o cardeal funkeiro Pedro, entre outros.
Dessa forma, belos cenários e modernas músicas tradicionais culminam na emocionante cena panorâmica do Sambódromo Marquês de Sapucaí, lembrando perfeitamente o que se vê na transmissão de TV no mês de fevereiro. No áudio original, os personagens principais, coadjuvantes e figurantes interagem em inglês e português, enquanto no fundo os sambas-enredos tocam em sua língua nativa.
Com tudo isso, pôde-se observar do que um diretor e (parte de uma) produção brasileiros são capazes de fazer, tendo em mãos os recursos de uma gigante como a Fox, em estúdios da Blue Sky e da Skywalker Sounds. Outros filmes e animações foram feitos com estrutura equivalente e não conseguiram a chegar a um resultado como o conquistado em Rio. Se os gringos não se importarem com os aeroportos e quiserem aproveitar a Copa ou as Olimpíadas para conferir o que o desenho mostra, todos sairão ganhando, principalmente o talento de nossos mais diversos artistas.


Créditos das foto-montagens: RioTur / ViajeAqui
http://viajeaqui.abril.com.br/fotos/brasil/rio-filme-pontos-turisticos-624656.shtml

sábado, 2 de julho de 2011

Esporte bretão?

É lugar-comum dizer que a popularidade do Futebol se deve à sua incrível capacidade de se adaptar a qualquer realidade - estrutural, econômica, etária etc. -, bastando algo que role de alguma forma (bolas de diversos materiais e tamanhos, tampinhas, material escolar...) e um local para se direcionar o referido objeto (o que nem sempre é necessário, quando se quer apenas driblar)... Também costuma-se chamá-lo de "esporte bretão", "inventado na Inglaterra", o que também é discutível, pois já existem relatos de práticas esportivas com características similares ao atual futebol na China e Japão antigos, Grécia e Roma, além de jogos da cultura maia e outros antigos povos norte-americanos (citando poucas referências).
A paternidade do futebol atribuída aos britânicos se deve ao fato de que nesta terra surgiu a preocupação em se normatizar essa prática esportiva, apenas no século XIX, servindo de referência para as atuais regras do desporto. A Football Association, formada por 11 clubes londrinos (inicialmente, eram 12 clubes), estabeleceu regras para este esporte em 1863, considerado o ano de nascimento do futebol moderno.
  “Futebol”, gravura de R. Cruickshank, publicada em 1827.
Mesmo sabendo que este tipo de informação pode ser conseguida em qualquer enciclopédia, impressa ou digital, chama a atenção a data dos primeiros relatos na China dos séculos III e II antes da era corrente, até a normatização britânica, cerca de vinte e dois séculos depois. Se os referidos clubes preocuparam-se em criar regras para os esporte, posso citar dois dos motivos para isso.
O principal seria diferenciá-lo de outros esportes similares na época, como o Rugby (este era o preferido do clube que ficou de fora da "association"), mas também chama a atenção a necessidade de se organizar um esporte praticado de forma caótica, quase sempre atribuído a situações confusas e à desordem.
“Futebol”, gravura de H. Heath (1830).
Isaac Robert Cruikshank, um caricaturista do século XIX que ilustrou obras como uma edição de "Dom Quixote" e um livro nomeado "Points of Misery". Suas produções mostram situações cotidianas de forma bem-humorada, e basta observar sua visão do futebol (ou "foot ball", o autor grafou os termos de forma separada) publicada em 1827 para se inferir sobre a prática deste jogo, anos antes da regulamentação.
Cruikshank não é o único exemplo. Outra gravura conhecida sobre o futebol é de 1830, produzida por H. Heath mostra uma situação análoga.

Goleiro francês Abbés e Pelé (1958).

Nilton Santos no jogo entre Brasil e União Soviética,
na Copa do Mundo de 1958.
  O francês Fontaine iguala o jogo Brasil 1 x 1 França
 na Copa do Mundo de 1958.
Chegando ao Brasil em 1894, trazido pelo paulista Charles Miller após uma viagem à Inglaterra, o futebol começou como um esporte de elite, mas a sua já citada adaptabilidade popularizou-o em nosso país de forma extraordinária. Participando desde a primeira Copa do Mundo organizada pela FIFA (Uruguai, 1930), o Brasil já sediou uma edição do campeonato em 1950, mas conquistando seu primeiro título apenas em 1958, na Suécia e, posteriormente, mais um título sequencial (Chile, 1962). Deixemos as obviedades de lado e vamos partir para a observação das cenas da época.
Brasil e Tchecoslováquia (1962).

Garrincha marca gol no jogo contra o Chile (1962).

Zito e Amarildo na Copa do Mundo de 1962.
Após a vitória da Inglaterra em 1966, o Brasil voltar a vencer no famoso "México 70", em pleno regime de Ditadura Militar, unindo esquerdas e direitas, ricos e pobres, guerrilheiros e militares, Arena's e MDB's num só grito quando o capitão (da seleção) Carlos Alberto levantou a taça. Aproveitando a deixa, façamos um salto para os anos finais do regime, quando a seleção de 1982 encantou a todos (apesar de não levantar a taça), para disponibilizar fotografias coloridas do evento.
Posteriormente, ainda matendo a tradição de Copa do Mundo e eleições no mesmo ano, comemorou-se 1994 e 2002, bastando observar as fotos e relembrar os momentos de ansiedade e alegria.


  Batalha aérea entre Everaldo e Luigi Riva, na final da
Copa do Mundo de 1970, entre Brasil e Itália.
Pelé na final Brasil x Itália (1970).

Clodoaldo marca na semifinal contra o Uruguai (1970).

Capitão Sócrates em jogo contra a Itália na Copa do Mundo em 1982.

  No memorável jogo entre Brasil e Itália na Copa do Mundo de 1982,
Serginho disputa a bola com dois italianos, Cabrini e Oriali.

Assim, aproveitando a Copa América (e fingindo que não estamos em período de férias escolares) deixo aqui uma sugestão de atividade, consistindo em  mostrar essas imagens aos alunos e solicitar que produzam sobre as mudanças que o futebol sofreu com o passar do tempo (organização, táticas, uniformes, estrutura, desempenho dos jogadores etc.) e também discutir as características da imagens (gravura, fotografia em branco e preto, fotografia colorida em película, fotografia digital...) que registraram essas mudanças (e permanências).

Bebeto marca no Brasil x Holanda da Copa do Mundo de 1994.

Branco cobra falta no jogo Brasil 3x2 Holanda (1994).

Raí no jogo Brasil x Camarões (1994).

Paolo Maldini e Romário lutam pela posse da bola no jogo Brasil x Itália (1994).

Roberto Baggio é marcado por Cafú (Brasil x Itália, 1994).

Taffarel defende o chute de Massaro (Brasil x Itália, 1994).

Romário e o sueco Håkan Mil (1994).

Conquista do pentacampeonato (2002).

Fontes:
The Global Game

L'aimable Faubourien

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