sábado, 21 de abril de 2012

Globalização, convivência democrática e seus impactos nos estudos culturais

Algumas informações deste texto provêm das vídeo-aulas do Prof. Mário Nunes (USP), para o curso de Especialização "Ética, valores e cidadania na escola" (EVC - USP/Univesp). Acrescento outras fontes e minhas observações, para contribuir no debate.

Qual o papel da Educação frente ao mercado globalizado? De acordo com o Prof. Mário Nunes, a Globalização pode ser definida como "um impacto avassalador dos processos econômicos globais, incluindo processos de produção, consumo, comércio, fluxo de capital e interdependência financeira". Dessa forma, os profissionais passam a encontrar a instabilidade, como novas demandas no mundo do trabalho. Com o surgimento de instituições supranacionais - cujas decisões moldam e limitam as opções políticas dos Estados-Nações - e a ascensão do neoliberalismo como discurso político dominante, gera-se uma mão de obra internacional e cada vez mais competitiva, com a crescente importância da produção intensiva do capital.
Assim, as novas formas culturais, e os meios e tecnologias de comunicação globais definem as relações de afiliação, identidade e relação entre as pessoas, criando um conceito de equipe como norma de organização do trabalho.

A maioria das pessoas - leigas ou não - reconhece que o ser humano é dotado de cultura e que ela é muito importante para o funcionamento da humanidade; mas não consegue descrever o que seria essa cultura, que geralmente é definida através de exemplos como poesia, música e pintura clássicas (definidas como cultura erudita) ou carnaval, lendas, crenças e esculturas em argila de personagens folclóricos (tidas como cultura popular); mas explicar por que tudo isso é cultura torna-se complicado. Outro problema que encontramos dentro da cultura é a dificuldade de aceitação, ou mesmo reconhecimento, por parte de um indivíduo, de culturas diferentes da sua. Comumente, tomamos como base a nossa própria cultura para definir seu verdadeiro significado; então, as sociedades que agem de forma diferente da nossa devem rever suas normas e valores; além disso, exploramos uma escala evolutiva unilinear, onde se considera que alguns de nossos contemporâneos, por viverem em um estado julgado como selvagem ou bárbaro, ainda evoluirão até o "ideal", ou seja, nossa civilização ocidental moderna.
O antropólogo Roque de Barros Laraia, em seu livro Cultura: um conceito antropológico¹, pretende mostrar de uma maneira prática a atuação da cultura. Explica que a cultura condiciona a visão de mundo do homem: “o modo de ver o mundo, as apreciações de ordem moral e valorativa, os diferentes comportamentos sociais e mesmo as posturas corporais são assim produtos de uma herança cultural, ou seja, o resultado da operação de uma determinada cultura” (p. 70). Indivíduos de culturas diferentes podem ser facilmente identificados por uma série de características; todos os seres humanos são dotados do mesmo equipamento anatômico, mas a utilização do mesmo depende do aprendizado.
Etimologia, de Roberto Weigand
“O fato de que o homem vê o mundo através de sua cultura tem como consequência a propensão em considerar o seu modo de vida como o mais correto e o mais natural. Tal tendência, denominada de etnocentrismo, é responsável em seus casos extremos pela ocorrência de numerosos conflitos sociais” (p. 75). Uma oposição ao etnocentrismo, a apatia, ocorre quando numa dada situação de crise os membros de uma cultura desconsideram seu valor, perdendo a motivação que os mantém vivos e unidos.
Todo sistema cultural tem sua lógica própria e a coerência de um hábito cultural somente pode ser analisada a partir do sistema a que pertence: as culturas que não possuem meios materiais de observação científica dependem de conclusões tiradas a partir de observações diretas, valendo-se apenas do instrumental sensorial que dispõe.
A mudança cultural interna é resultante da dinâmica do próprio sistema cultural. Outro tipo de mudança vem do conceito de aculturação, dado no contato de um sistema cultural com outro, o qual é o mais atuante na maior parte das sociedades. O tempo também constitui um elemento importante na análise de uma cultura: por várias vezes cada cultura sofre embates entre as tendências conservadoras e inovadoras. “Entender essa dinâmica é importante para atenuar o choque entre as gerações e evitar comportamentos preconceituosos” (p. 105).

Após dispor sobre os conceitos aqui apresentados, volta-se à pergunta inicial, relacionado essas informações à Educação: uma vez que se trata de construir conhecimento e vida em comum, o educando está imediatamente convocado a participar do debate, a começar pelo espaço escolar: só será possível desenvolver a capacidade de uma tomada de posição consciente se - durante a exposição do professor, em sua própria exposição oral, na discussão em pequenos grupos ou num debate generalizado em sua turma - ele tiver e atribuir de modo regular aos interlocutores a oportunidade de, com toda liberdade, perguntar, responder, solicitar e fazer esclarecimentos, opor-se, criticar, confrontar diferentes posições e possibilidades, recusar interpretações, fazer interpretações e, em especial, mudar de posição quando estiver convencido de que a sua pode não ser necessariamente a melhor.

Eduardo Carvalho
Pólo de Praia Grande

¹LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 11ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997.

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