sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Consciência Negra em (sala de) aula

Neste dia da Consciência Negra, _Edu_cação sugere alguns materiais que podem ser trabalhados em sala de aula, buscando contribuir nesta difícil tarefa de criar um sentimento de identidade com nossa História, não só para os que se consideram negros, mas para todos os brasileiros.

Maré Capoeira

Sinopse: Maré é o apelido de João, um menino de dez anos que sonha ser mestre de capoeira como seu pai, dando continuidade a uma tradição familiar que atravessa várias gerações. Um filme de amor e guerra.
Este curta de ficção contém muitas informações históricas que podem ser trabalhadas em sala de aula, como a origem dos cativos africanos, sua trajetória no Brasil e sua contribuição para a formação de nossa cultura. Além das cenas e imagens produzidas, o filme conta também com arquivos que ilustram e destacam a participação da cultura negra em nossa História, criando, assim, uma identificação e uma valorização do legado africano.

Maracatu, Maracatus

Sinopse: As diferenças culturais entre as várias gerações de integrantes do maracatu rural, ritual afro-indígena que tem suas origens nos engenhos de açúcar de Pernambuco.
Aqui pode ser trabalhado o conflito e/ou encontro de gerações. O esforço dos mais velhos para manter as tradições bate de frente com a ânsia dos mais jovens pela novidade. Desse embate, surgem movimentos artísticos pernambucanos que mesclam a tradição e o que há de moderno.
Além da apresentação de muitos rituais de origem africana, este filme também pode servir como análise das mudanças e permanências existentes nessa relação passado-presente.


Identidades em Trânsito

Sinopse: Identidades em Trânsito trata das experiências de estudantes de Guiné-Bissau e Cabo Verde formados no Brasil. O filme aborda a saída, a chegada, adaptação no Brasil, e o retorno desses estudantes aos seus países de origem.
Documentário muito informativo e que exige a atenção do espectador. Com isso, pode-se conhecer a impressão que os jovens africanos têm do Brasil, bem como buscar relações entre nosso país e os outros colonizados por Portugal. A análise das experiências dessas culturas, que se encontraram ao longo da História, objetiva a criação de um sentimento de identificação entre nossa cultura e a cultura do outro.

Existem muitas ferramentas para copiar esses videos da internet, mas, simplificando, é possível exibir os filmes através deste blog. Basta executá-lo e, se desejar, clickar em "exibir tela cheia"

Além desses vídeos, outro material que pode ser utilizado é o texto "A cor do Brasil", de Greice Ferreira da Silva:

Clique aqui para baixar o arquivo do texto

  • Sugere-se a leitura do texto pelos alunos, seguida de uma discussão e/ou produção textual na qual os educandos procurem explicar a expressão “aquarela do Brasil”, citada pela autora nesse contexto.
  • Outra atividade que pode ser trabalhada seria um mapeamento dos diversos povos que contribuíram na formação da sociedade brasileira, com o auxílio de um mapa-múndi.
  • Questionar, junto aos alunos, as definições existentes para as múltiplas etnias existentes no território brasileiro (negro, branco, mameluco, mulato, caboclo etc) – buscando descobrir se essas nomenclaturas conseguem realmente definir essa mistura – também pode gerar resultados interessantes.
  • Pode-se também fazer um levantamento, com os alunos, sobre quais fontes poderiam ser usadas para ajudar na difícil tarefa de encontrar esclarecimentos na busca de uma identidade para o povo brasileiro.
  • Também se pode aproveitar o texto para outras atividades, discussões e produções, ficando a critério da criatividade do professor e de seus alunos.

Bom trabalho!

domingo, 15 de novembro de 2009

República alegórica

Nosso cotidiano é repleto de símbolos e alegorias. Abrimos os jornais e observamos nossos políticos serem representados por figuras carregadas de significados, como um porco, um marajá ou um burro. Atribuímos a profissão de padeiro aos portugueses. Os chineses e japoneses são donos de pastelaria e são muito inteligentes, enquanto teimamos em dizer que nossos irmãos lusitanos são "burros" (outra alegoria, representando a falta de inteligência)... Não precisamos trabalhar no dia 21 de abril ou no 15 de novembro, mas não lembramos por que; apenas agradecemos por não termos que aturar nosso insuportável cotidiano. No dia em que é lembrada a morte (por enforcamento e esquartejamento) de Tiradentes, fazemos um churrasco. Porém, lembramos do significado do 7 de setembro, pois levamos nosso filho para a principal avenida da cidade a fim de reuni-lo com seus colegas e professores da escola para celebrar a Independência numa passeata. E nos orgulhamos e tiramos fotos. Principalmente se nosso filho está carregando a bandeira nacional, símbolo enraizado em nossos corações, o qual também nos identifica em eventos mundiais, como a Copa do Mundo ou as Olimpíadas.
'O Malho', 12/11/1904Existe uma lista infindável de símbolos e alegorias que se encontram enraizados em nosso imaginário (como o hino e a bandeira nacional) ou que são apenas tentativas de formá-lo (como o feriado de 15 de novembro ou a ideia de que a justiça é cega). A Proclamação da República no Brasil é considerada um evento histórico muito controvertido, no qual houve uma verdadeira batalha entre ideologias republicanas pela legitimação do novo regime. Dentre as formas buscadas para essa legitimação, a elaboração de um imaginário social é parte integrante. Nessa elaboração, foi dada muita importância à expressão dos sentimentos republicanos através de símbolos, alegorias, rituais e mitos. Atingir o imaginário popular a fim de agregar-lhe valores republicanos era um dos principais objetivos dos envolvidos na citada batalha. Nesta empresa, além do problema das divergências entre as correntes ideológicas envolvidas, encontrava-se também o fato da República ter sido proclamada sem a participação popular. Daí a necessidade de se criar um imaginário social sobre a República. Não basta mostrar ou inventar a verdade, é necessário fazer com que o povo a ame, apoderando-se de sua imaginação, formando almas.

Na busca pelo entendimento da legitimação da República brasileira, o cientista político e historiador José Murilo de Carvalho, em sua obra “A Formação das Almas: o imaginário da República no Brasil”, concentra-se no tema da batalha pelo imaginário popular republicano.

No mundo moderno, a ideologia é o instrumento para a legitimação de regimes políticos. Mantendo sua tradição de exportador de matéria-prima e importador de manufaturados, ideias e instituições, no contexto histórico da proclamação da República brasileira havia três correntes ideológicas: o liberalismo à maneira norte-americana (prezava a individualidade), o jacobinismo à francesa (prezava o coletivo) e o positivismo (divididos entre os positivistas e os positivistas ortodoxos). Supunham modelos de república, de organização da sociedade, carregados de aspectos utópicos e visionários. Essas ideologias disputavam a definição da natureza do novo regime político brasileiro. Nessa batalha, cada uma delas, à sua maneira, defendia o envolvimento popular na vida política.
Dentre os três distintos modelos de república disponíveis aos brasileiros, o norte-americano e o positivista davam ênfase à organização do poder, enquanto o jacobinismo colocava a intervenção popular como fundamento do novo regime. Com exceção de poucos radicais, os vários grupos ideológicos acabavam dando ênfase ao Estado. A dificuldade brasileira, tanto com os modelos antigos quanto os modernos, foi a falta da existência anterior do sentimento de comunidade, de identidade coletiva, de pertencer a uma nação. Sem esse sentimento, negligencia-se o fato universal da diversidade e do conflito.

'A Proclamção da República', de Henrique BernadelliNessa busca pela criação de um imaginário sobre a República, os vencedores do 15 de novembro tentaram construir uma versão oficial dos fatos, ampliando ao máximo o papel dos atores principais e reduzindo ao mínimo a parte que coube ao acaso. Iniciava-se a batalha pelo estabelecimento do mito de origem. Nesta luta, o embate se dava entre os partidários de Deodoro, Benjamin Constant, Quintino Bocaiúva e Floriano Peixoto. A luta maior é pela qualificação de fundador, entre Deodoro e Benjamin Constant e se estende até hoje. Com a análise das tentativas de construção desse mito de origem, para o autor, pode-se descobrir as contradições que marcaram o início do regime, mesmo entre os que o promoveram: o mito da origem ficou inconcluso, assim como a República. Vistas essas divergências, nota-se a dificuldade em encontrar ou construir um herói para o novo regime. O tema do herói interessa ao autor por ser um instrumento eficaz para atingir a mente e o coração do povo. Heróis são símbolos poderosos, encarnações de ideias, pontos de referência para a identificação coletiva. No caso da República brasileira, a construção do herói pode servir também para compensar e preencher o vazio da participação civil em sua proclamação. O personagem que aos poucos se revelou capaz de atender às exigências do mito não estava presente no evento da proclamação: Tiradentes.
'Tiradentes', de Décio VillaresEsse patriota, em seus últimos dias na prisão antes da execução, transformou-se num místico por força dessa experiência traumática e da lavagem cerebral que sofreu pelos frades. Esse misticismo final não destruiu seu apelo patriótico. A coragem que demonstrou vinha do fervor religioso. Assumiu explicitamente a posição de mártir, identificou-se abertamente com Cristo. Tudo isso se encaixava perfeitamente no sentimento popular, marcado pela religiosidade cristã. Não dividia as pessoas ou as classes sociais. Ligava a República à Independência e indicava o caminho para a liberdade. Até os dias atuais, sua figura é utilizada por conservadores e liberais, por revolucionários e reacionários. Tanto pela esquerda quanto pela direita. O autor conclui que este é o segredo para a vitalidade desse herói: a ambiguidade.

'República', de Décio VillaresInteressou também ao autor a utilização da alegoria feminina no imaginário republicano francês, e sua tentativa de importação pelos brasileiros. A alegoria da Primeira República francesa inspira-se na tradição clássica da deusa Atena. Na Segunda República, a alegoria agora é apresentada como uma mulher amamentando duas crianças, retirando o aspecto belicoso anterior. No período que precedeu a Terceira República, com a luta contra Napoleão III, recuperou-se a antiga representação. Como reação, o governo incentivou o culto à Virgem Maria. Eis uma batalha de cultos.
'Alegoria da República', de Manoel Lopes RodriguesNa importação dessa alegoria pelo Brasil, o esforço inicial deveu-se aos cartunistas, os quais utilizaram o modelo clássico. Apesar disso, os pintores, excetuando-se os positivistas, praticamente ignoraram o simbolismo feminino para a República. No caso dos positivistas, a mulher poderia ser utilizada na representação da escala dos valores positivistas, fugindo da representação clássica e da identificação com a mulher brasileira. Porém, este problema de identificação da alegoria com as brasileiras foi resolvido de forma prejudicial para a República. O desapontamento quanto aos rumos que a república brasileira A alegoria da república francesa, junto à 'irmã mais nova' brasileiratomara foi expresso pelos caricaturistas, que passaram a utilizar a figura feminina para ridicularizar a República. Prostitutas e velhas cansadas, essas eram as alegorias que representavam o resultado da república no Brasil. A representação feminina que não obteve caráter pejorativo, que se identificou com o povo, foi promovida pelo governo: o culto à Virgem Maria, representado na imagem de Nossa Senhora Aparecida. Além das profundas raízes católicas, essa imagem é negra, identificando-se melhor com a mulher brasileira. A batalha por essa alegoria no Brasil terminou com a vitória do religioso sobre o cívico.

Parte-se agora para a discussão da formação dos símbolos nacionais mais evidentes e de uso obrigatório: a bandeira e o hino. A batalha decisiva agora se volta para a representação oficial da República. Os positivistas conseguiram o mais importante: a aceitação popular. Mantendo-se algumas características da antiga bandeira, era mantida também a tradição cultural e cívica da população. Além disso, anunciava um futuro próspero com a divisa 'A pátria', de Pedro Bruno“Ordem e Progresso”. Dessa forma, foi feita a ligação entre o passado, o presente e o futuro. No caso do hino, a vitória foi completamente da tradição. O hino composto por Francisco Manuel da Silva já se enraizara na tradição popular, tornando-se um símbolo da nação. O autor conclui que a República só teve êxito quando se voltou às tradições mais profundas, mesmo algumas sendo alheias às suas características.

Assim, José Murilo de Carvalho analisou as diversas formas e meios para a criação de símbolos, alegorias e rituais que visavam legitimar a República. Para tanto, precisou ir além da historiografia e dos documentos oficiais, utilizando-se de periódicos, registros de depoimentos, pinturas e esculturas, analisando-os de forma a conceber a visão de mundo das diferentes classes sociais e ideológicas, compreendendo a visão geral daquela época, contribuindo na compreensão da atual. Como a maioria das ideias e símbolos utilizados é importada, o autor buscou explicar historicamente a formação destes em seus países de origem, dando ênfase ao positivismo; isso se deveu à habilidade dos positivistas em articular símbolos, elemento interessante ao autor em sua proposta. Particularmente, apreciei as análises sobre as pinturas, caricaturas e esculturas, nas quais cada detalhe é carregado de significado. Conclui-se, portanto, que os esforços das correntes ideológicas republicanas falharam na sua tentativa de criar um imaginário sobre a República. A ausência popular na proclamação criou uma grande barreira para a legitimação do novo regime, o qual obteve êxito apenas quando se voltou à tradição religiosa e imperial. Após essa contribuição do autor, pode-se entender melhor o fato de não lembrarmos porque não precisamos trabalhar no dia 15 de novembro e por que já nascemos amando a bandeira nacional, como se ela já existisse por si mesma. Porém, um mito, mesmo quando muito forte, deve ser constantemente alimentado. Enquanto somos crianças em idade escolar, nossa professora nos lembra todo ano da importância de Tiradentes, e confundimos sua figura quando ela nos diz que ele morreu por nós; contudo, quando crescemos, esquecemos por que existe o feriado de 21 de abril, pois ninguém nos lembra de seu significado. E fazemos um churrasco.

Referência bibliográfica:
CARVALHO, José Murilo de. A Formação das Almas: o imaginário da República no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O céu sobre Berlim

“Ninguém tem a intenção de construir um muro”, afirmou o chefe de governo e secretário-geral do Partido Socialista Unitário da República Democrática Alemã (RDA), Walter Ulbricht, em junho de 1961. Dois meses depois, no entanto, ele foi construído.
No dia 12 de agosto, o Conselho de Ministros da RDA decidiu cercar as fronteiras com a República Federal da Alemanha, “para impedir a atividade inimiga das forças revanchistas e militares”. No dia 13, começou a construção do Muro de Berlim, que entrou para o linguajar dos alemães orientais como “muralha de proteção antifascista” e para os ocidentais como “o muro da vergonha”. Na justificativa oficial, porém, não foi citada uma palavra sobre o êxodo da população alemã oriental para o oeste.
O chefe do governo Walter Ulbricht encarregou Erich Honecker, então secretário do Conselho Nacional de Defesa, de cercar a fronteira. À 1h05 da noite de 13 de agosto de 1961, apagou-se a iluminação de rua no Portão de Brandemburgo, o cartão de visita da cidade.
Aproximadamente 20 mil policiais da Guarda de Fronteira, soldados, funcionários do Stasi (o poderoso serviço secreto e de segurança da RDA), além de milícias de trabalhadores, avançaram rumo à demarcação do setor ocidental. Cercas de arame farpado e blocos de concreto armado foram instalados. Onde isso ainda não era possível, tanques bloquearam a passagem. A cerca ao longo dos três setores ocidentais de Berlim dividiu ruas, cemitérios, linhas de bonde e trens, propriedades e até famílias, da noite para o dia. Seis horas depois, a fronteira, contornando os 155 km de Berlim Ocidental, estava toda cercada. A população da Alemanha Oriental não podia mais sair. Posteriormente, estabeleceu-se um rigoroso sistema de autorização de viagens ao Ocidente, que continuaram sendo um sonho para a grande maioria dos alemães orientais.
O Muro de Berlim, propriamente dito, tinha até 4,20m de altura em alguns trechos. Uma segunda fortificação foi construída posteriormente. Ao seu redor foi demarcada uma faixa de segurança, também conhecida como “faixa da morte”, que chegava a ter cem metros de largura. Ali se encontravam cerca de 300 torres de vigilância, 20 bunkers (instalações antiaéreas subterrâneas), 260 canis e inúmeros postes com holofotes. Os soldados receberam ordem de atirar e impedir qualquer fuga “usando todos os recursos disponíveis”. Por trás do Muro de quatro metros de altura, havia uma segunda barreira, cercas com alarme e profundas trincheiras antiveículos. Holofotes, cães e minas completavam o esquema de segurança que fazia do Muro uma fortaleza praticamente inexpugnável.

Por quase três décadas os alemães viveram esse conflito entre o real e o imaginário, o concreto e o abstrato acerca da separação de dois mundos. Os efeitos desses muros (que dividiam os limites geográficos e as mentes das pessoas) influenciaram a - talvez - maior obra do cineasta alemão Wim Wenders, em um filme conhecido aqui como "Asas do Desejo" - título já oriundo da tradução em inglês, o qual já perde seu sentido mais filosófico.
O título original, Der Himmel Über Berlim (Alemanha-França, 1987) já expõe a interpretação do autor sobre o muro: "O(s) céu(s) sobre Berlim". Afinal, do céu não há separação entre mundos; lá de cima, é possível se ter acesso a tudo e a todos.
Acesso este disponível aos anjos Damiel (Bruno Ganz) e Cassiel (Otto Sander), que exploram a Berlim ocidental poucos anos antes da queda, analisando o comportamento e os sentimentos humanos e, sem deixar de cumprir seu papel celeste, compartilham entre si observações sobre gestos e momentos despercebidos pelos mortais.
Damiel, Cassiel e os outros anjos só podem ser vistos por crianças (ainda não massacradas pela dura rotina da Alemanha dividida), podem estar em qualquer lugar a qualquer momento e... enxergam em preto-e-branco! Ou melhor, sempre que o Wim Wenders nos dá a visão do anjo, a película atende somente à escala do cinza. Acredito que o cineasta lança mão desse recurso para dar ao espectador a noção de que os anjos não podem ter sensações físicas e emocionais como os mortais.
O encontro entre dois mundos se dá quando Damiel conhece e se apaixona por Mariom (Solveig Dommartin) uma trapezista de um circo decadente, que vê sua Companhia partir enquanto ela fica na solidão. É incrível a forma como Wenders trabalha nosso imaginário sobre dois mundos separados por uma força maior: enquanto Mariom, sozinha em seu quarto, perde-se em pensamentos sobre sua vida, Damiel a observa e, por vezes, acredita que a trapezista percebe sua presença. Os personagens, tão próximos no cenário, conseguem nos transmitir o quão distantes estão entre si.
Assim, esse amor platônico às avessas continua, até que Damiel conhece um ex-anjo e percebe que é possível tornar-se um mortal (passar para o outro lado do Muro) e resolve cair. Até aqui, vale a observação de que o filme já está sendo expresso em três línguas: alemão, francês (origem do circo) e inglês (pois o ex-anjo é um cineasta norte-americano). Afinal, os idiomas também são uma fronteira que, neste caso, parece não existir para os personagens.
Damiel cai e tudo se torna colorido. Mais irônico é que o agora mortal, como uma criança, não conhece as cores, aprendendo-as através das pixações do Muro de Berlim. Maravilha-se com a dor e com o gosto do sangue após sua queda e delicia-se com um café bem quente, que um homem (mortal, já acostumado com as belas pequenas coisas da vida), num ato de gentileza, paga ao novato humano.
Damiel encontra sua amada num show de Nick Cave, e a bela trapezista parece já conhecê-lo há tempos (assim como os antigos conterrâneos alemães, antes de sua separação) e a intimidade dos dois impressiona e faz-nos acreditar que o Muro nunca existiu, pois a distância que havia entre os dois não poderia ser definida nem como física, nem como temporal.

(...)

No dia 9 de novembro de 1989, o jornalista italiano Riccardo Ehrman fez uma pergunta que mudou o mundo. Em uma coletiva de imprensa, na qual a RDA divulgava sua nova lei de viagens, Ehrman obteve do porta-voz do governo, Günter Schabowski, uma declaração que não havia sido planejada pelo Conselho Ministerial: a de que viagens para o Ocidente seriam permitidas a partir daquele exato momento. A agência italiana de notícias ANSA, para qual Ehrman trabalhava, publicou exclusivamente a notícia de que o Muro havia caído. As imagens do evento rodaram o mundo. Logo, milhares de cidadãos da RDA correram para os postos fronteiriços.
Naquele dia fatídico, Riccardo Ehrman chegara atrasado ao evento. Como não havia mais cadeiras, agachara-se bem à frente de Schabowski, com o bloco de notícias no joelho. Schabowski proferiu então a declaração do Conselho Ministerial de que “viagens particulares ao exterior poderiam ser requeridas sem condições prévias – motivos ou relações de parentesco. A autorização seria fornecida em curto prazo. Viagens permanentes poderiam ser efetuadas a partir de qualquer posto fronteiriço da RDA para a RFA ou para Berlim Ocidental”.
A pergunta de Riccardo Ehrman foi: “Quando isso entra em vigor?”. Schabowski respondeu com a incerteza de um porta-voz: “Pelo que eu sei... imediatamente”. Foi o suficiente para que Ehrman se levantasse e deixasse o recinto. No seu artigo, escreveu: O mundo mudou. Hoje. Muitas agências falaram apenas numa simplificação da lei de viagens. Mas para Ehrman aquilo tinha um significado claro: o Muro havia caído.
Na noite do dia 9 de novembro de 1989, por volta das 22h, uma multidão pacífica marchou em direção aos pontos de passagem que havia no Muro de Berlim querendo ir para o outro lado. Os guardas da fronteira, com o inesperado de tudo aquilo, sem saber o que fazer, sem ordens, não tiveram outra alternativa senão em levantar as cancelas e deixar o povo passar.

Assim, dois anos antes da real queda do Muro de Berlim, Wim Wenders nos presenteava com a queda de Damiel, o anjo que ultrapassou a barreira entre o celeste e o mundano, aproximando dois mundos antes separados fisicamente, mas unidos pelo sentimento e pela vontade de pertencer a um só lugar.


Referências bibliográficas:
ARRUDA, José Jobson de A.; PILETTI, Nelson. Toda a História. São Paulo: Ática, 1997.
BAILBY, Edouard. Berlim entre duas Alemanhas. Rio de Janeiro: Leitura, 1962.
ELIAS, Norbert. Os Alemães: a luta pelo poder e a evolução do habitus nos séculos XIX e XX. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997.
GERHARDT, Alfredo. O Muro de Berlim e as duas Alemanhas. São Paulo: Fulgor, 1963.
HOBSBAWM, Eric J. Era dos Extremos: o breve século XX (1914-1991). São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Homero: nosso primeiro professor?

(Contribuindo para a blogagem coletiva - Professores do Brasil)

O conhecimento da educação antiga constitui-se numa das fontes para um melhor conhecimento da cultura contemporânea. Entender sua tradição pedagógica, seu regime e suas aspirações educacionais faz-nos compreender melhor as práticas e ideais educativos atuais, bem como analisá-los e questionar suas estruturas.
Nessa busca, é relevante consultar um livro de 1966, do até então professor da Sorbonne, Henri-Irínée Marrou: História da Educação na Antiguidade. Utilizando a 4ª edição de 1975, nota-se que o livro, como descrito em sua contra-capa, é “um trabalho de síntese erudita, que incorpora e coordena os resultados das mais recentes disquisições efetuadas pela investigação moderna [conforme sua época]”, no campo de conhecimento do tema. Comprova-se essa citação com a vasta e diversa bibliografia, contendo obras que vão desde a Ilíada e a Odisséia de Homero até as contemporâneas do autor, sem limitar-se apenas a fontes sobre educação.
Busto de Homero, cópia romana do séc. II a partir do original grego (séc II a.C.)A obra inicia-se afirmando que Homero foi a origem da cultura e educação gregas, com uma análise da Ilíada: citando a época em que foi escrita, bem como o tempo a que se remete (a imagem de uma idade heróica, anterior a de Homero) e seu caráter poético e filológico.
Segundo o autor, a cultura grega foi originalmente privilégio de uma “aristocracia” de guerreiros (anacronismos à parte, “cavalheiros”, como o autor cita), análogos ao cavaleiros medievais em seu refinamento e habilidade. Portanto, é necessária uma educação adequada a essa elite, tendo como figura típica Quirão, o centauro educador de Aquiles. Essa pedagogia é baseada na relação entre pupilo e mentor (esse último como confiado do pai do pupilo), utilizando como texto-base a obra de Homero: um manual ético, um tratado do ideal, a partir do exemplo dos heróis homéricos, como o cultivo da honra, da aspiração pela superioridade, expor-se ao ódio por um fim nobre - a alta idéia da glória.

Sobre a educação espartana, Marrou lembra que, como uma cidade de semi-iletrados onde a prática militar é sua principal característica, a educação heróica de Homero perpetua-se. Com a dificuldade da escassez de fontes especificamente sobre a educação em Esparta - as fontes sobre sua cultura são mais comuns - o autor diz que é essencialmente militar, voltada para a formação do soldado com um ideal coletivo: devoção aos interesses do “Estado”, morrer pelo coletivo, caracterizando, assim, uma outra concepção de honra: resistir numa batalha. A educação espartana não tem por fim selecionar heróis, mas formar uma cidade inteira de heróis. Para tanto, a educação é baseada na prática de esportes (conquistando, assim, grande sucesso nos Jogos Olímpicos), com bons treinadores e inovações técnicas. A música era o centro da cultura, com a dança (ginástica) e o canto (poesia) incluídas na pedagogia, sempre com o objetivo de formar heróis virtuosos.
Esparta foi a predecessora da cultura arcaica, atraía grandes artistas estrangeiros e a vida artística e esportiva era manifestada coletivamente nas grandes festas religiosas. Com a Grécia evoluindo para a época clássica, Esparta resistiu às inovações das outras cidades, estacionando sua evolução e, finalmente, estruturando a severa educação espartana clássica, a qual faz uma espécie de “adestramento” do hoplita, aceitando-se somente crianças fisicamente perfeitas que, a partir dos 7 anos de idade passam a pertencer ao “Estado”, onde ficam internadas até os 30 anos num regime de educação coletiva e vida em comunidade. Essa “criação” praticamente sacrifica o aspecto intelectual, quando mesmo as artes ainda cultivadas eram utilizadas para fins militares e morais. Marrou finaliza com uma crítica negativa à época clássica de Esparta.

A Apoteose de Homero - Jean Auguste Dominique Ingres, 1827Foi em Atenas que a educação perdeu seu caráter essencialmente militar, quando seus habitantes despiram-se de suas armaduras e armas, adotando um estilo de vida menos rude e mais civilizado, onde as técnicas guerreiras eram consideradas esporte ou arte. Inicialmente a educação continuava a ser privilégio de uma elite, mas o aumento da demanda de alunos gerou a democratização do ensino, surgindo, assim, a escola, onde ensinava-se educação física, música e poesia - sempre objetivando seu aspecto moral; com a difusão da escrita, tornou-se necessário também o ensino das letras nas escolas. O ideal dessa educação antiga continua sendo de ordem ética: moralidade e beleza física.

Partindo para a transição à educação intelectual, o autor fala das escolas de Medicina e do desenvolvimento da Filosofia - resultando na criação da escola filosófica. Após a crise da tirania, a vida política tornou-se o aspecto fundamental e, a partir de então, a educação visa a formação do político.
Os sofistas exerciam o papel de educadores nessa nova pedagogia. Tem-se no livro a explicação de como realizavam seu ofício e também como faziam para conseguir alunos - originando, assim, a prática das Conferências. Ensinavam a dialética (a arte de persuadir) e a retórica (a arte de falar), bem como a cultura em geral, realizando uma inovação na educação grega. Sócrates (também um educador), fazia oposição à pedagogia dos sofistas; entretanto, entre os próprios sofistas havia divergências: uma contribuição para a evolução da educação.

Dessa forma, entende-se como a educação grega deixou para trás seu caráter essencialmente militar, voltando-se à formação do intelecto e à capacitação para a arte da política. Interessante notar como nossos antepassados clássicos preocupavam-se em preparar seus alunos para a vida, enquanto, passados tantos séculos, nossa cultura contemporânea preocupa-se em formar o “consumidor”, marginalizando a formação do “cidadão”.
Charge de Santiago para A Charge Online

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Blogagem coletiva - "Professores do Brasil"

O Ponderantes está promovendo a blogagem coletiva “Professores do Brasil”. O evento ocorrerá na mesma data em que se comemora o dia desses profissionais que, embora sejam imprescindíveis à sociedade, estão cada vez menos valorizados.
Se você quiser participar, deverá publicar em seu blog um post relacionado ao tema proposto – “Professores do Brasil” – no próximo dia 15 de outubro. Seu post pode conter, por exemplo, um texto crítico, um protesto, uma homenagem através de poesia, um relato sobre um professor que marcou sua vida, uma imagem, um vídeo ou o que sua criatividade desejar.

sábado, 10 de outubro de 2009

Constituição Brasileira

Charge de Jean, Folha de S. Paulo, 07/11/2008Essa semana, no dia 5 de outubro, a Constituição Brasileira de 1988 completou seus 21 anos de promulgação. Apesar deste aniversário não ter sido muito divulgado na mídia, sabemos da importância de nossa Constituição "mais recente" e, principalmente, refletir sobre nossas ações para não deixar que as liberdades, direitos e deveres previstos nessa Carta não fiquem apenas no papel (ou no espaço virtual!).

Aproveitando a ocasião, podemos lembrar que esta Constituição, promulgada por uma Assembléia Constituinte eleita por voto popular, foi precedida por duas outras Cartas que não tiveram a mesma origem: a Constituição de 1969, outorgada, originou-se de uma emenda - decretada pelos "ministros militares no exercício da Presidência da República" - à Constituição de 1967, que é considerada semi-outorgada por ter sido escrita por uma Assembléia originária do Congresso Nacional com membros afastados por pressão dos militares.
Assim, antes de 1988, a última Carta promulgada foi a Constituição dos Estados Unidos do Brasil, de 1946, dita liberal e com pretensões de pôr fim à Era ditatorial do Estado Novo.
Com essa Constituição de 1946, temos um bom subsídio para refeltir com os alunos sobre as liberdades, direitos e deveres dessa Carta: as heranças que recebeu da Constituição outorgada de 1937 e seu legado para nossa "atual" Constituição.
Eis alguns trechos da Carta de 1946:

TÍTULO IV
CAPÍTULO I
Art 129 - São brasileiros:
I - os nascidos no Brasil, ainda que de pais estrangeiros, não residindo estes a serviço do seu país; (...)
Art 130 - Perde a nacionalidade o brasileiro: (...)
III - que, por sentença judiciária, em processo que a lei estabelecer, tiver cancelada a sua naturalização, por exercer atividade nociva ao interesse nacional. (...)
Art 132 - Não podem alistar-se eleitores:
I - os analfabetos;
II - os que não saibam exprimir-se na língua nacional;
III - os que estejam privados, temporária ou definitivamente, dos direitos políticos.
Parágrafo único - Também não podem alistar-se eleitores as praças de pré, salvo os aspirantes a oficial, os suboficiais, os subtenentes, os sargentos e os alunos das escolas militares de ensino superior. (...)
Art 134 - O sufrágio é universal e, direto; o voto é secreto; e fica assegurada a representação proporcional dos Partidos Políticos nacionais, na forma que a lei estabelecer.

CAPÍTULO II
Art 141 - A Constituição assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade dos direitos concernentes à vida, à liberdade, a segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes:
§ 1º Todos são iguais perante a lei.
§ 2º Ninguém pode ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei.
(...)
§ 5º - É livre a manifestação do pensamento, sem que dependa de censura, salvo quanto a espetáculos e diversões públicas, respondendo cada um, nos casos e na forma que a lei preceituar pelos abusos que cometer. Não é permitido o anonimato. É assegurado o direito de resposta. A publicação de livros e periódicos não dependerá de licença do Poder Público. Não será, porém, tolerada propaganda de guerra, de processos violentos para subverter a ordem política e social, ou de preconceitos de raça ou de classe. (...)
§ 7º - É inviolável a liberdade de consciência e de crença e assegurado o livre exercício dos cultos religiosos, salvo o dos que contrariem a ordem pública ou os bons costumes. As associações religiosas adquirirão personalidade jurídica na forma da lei civil. (...)
§ 12 - É garantida a liberdade de associação para fins lícitos. Nenhuma associação poderá ser compulsoriamente dissolvida senão em virtude de sentença judiciária.
§ 13 - É vedada a organização, o registro ou o funcionamento de qualquer Partido Político ou associação, cujo programa ou ação contrarie o regime democrático, baseado na pluralidade dos Partidos e na garantia dos direitos fundamentais do homem.

Apesar de ser considerada liberal, a Constituição de 1946 ainda mantém algumas restrições às liberdades, ou concede limitações a essas liberdades; o que pode ser observado no Artigo 132 e nos §5º, 7º e 13 do Artigo 141. Essas liberdades são restringidas por motivos como “exercer atividade nociva ao interesse nacional”, “subverter a ordem política e social”, contrariar “a ordem pública e os bons costumes”.
Ainda sobre o § 5º do Art 141, ao ler seu texto, tem-se a impressão de seu caráter liberal, por garantir a livre manifestação de pensamento. Entretanto, permite a censura de apresentações públicas e não tolera processos que venham a subverter a ordem política e social, sem definir com clareza o que seriam tais processos.

Essas informações nos permitem refletir com os alunos sobre como nossas dificuldades em "tirar as leis do papel" não estão somente nas atitudes das pessoas, mas também na passibilidade dessas Conflito na Praça da Sé em ocasião da extinção do PCB. São Paulo, 1947leis em relação à sua interpretação. As críticas aos Artigos citados são apenas uma amostra de como essa Constituição de 1946, apesar de simbolizar um avanço para a democracia brasileira, ainda possuía muitas falhas atreladas aos interesses dos empresários urbanos e latifundiários, fragilizando-a e permitindo que, por exemplo, o presidente Dutra utilizasse o trecho do Artigo 141, § 13: "É vedada a organização, o registro ou o funcionamento de qualquer Partido Político ou associação, cujo programa ou ação contrarie o regime democrático..." para cassar o Partido Comunista do Brasil, mesmo com o § anterior prevendo que "É garantida a liberdade de associação para fins lícitos." (O que seriam fins considerados "lícitos"?).
Fragilidade esta que contribuiu para que o Brasil ainda estivesse engatinhando em direção à democracia, caminho este que fora interrompido por décadas de Ditadura Militar.


O texto abaixo é um trecho do discurso do presidente João Goulart no Comício das Reformas, realizado no dia 13 de março de 1964, no Rio de Janeiro (às vésperas de ser derrubado pelos militares):
Discurso de Jango no Comício das Reformas"(...) não receio ser chamado de subversivo pelo fato de proclamar – e tenho proclamado e continuarei a proclamando em todos os recantos da Pátria – a necessidade de revisão da Constituição da nossa República, que não atende mais aos anseios do povo e aos anseios do desenvolvimento desta Nação. A Constituição atual, trabalhadores, é uma Constituição antiquada, porque legaliza uma estrutura sócio-econômica já superada; uma estrutura injusta e desumana. O povo quer que se amplie a democracia, quer que se ponha fim aos privilégios de uma minoria; que a propriedade da terra seja acessível a todos; que a todos seja facilitado participar da vida política do País, através do voto, podendo votar e ser votado; que se impeça a intervenção do poder econômico nos pleitos eleitorais e que seja assegurada a representação de todas as correntes políticas, sem quaisquer discriminações, ideológicas ou religiosas."

Necessidade de “que se amplie a democracia”, pôr “fim aos privilégios de uma minoria”, e lutar para “que a propriedade seja acessível”, e que todos possam realmente “participar da vida política do país” são anseios que temos até hoje. Nossos alunos, ainda que muito jovens, podem ter, através de seus professores e de todos esses subsídios, consciência de que serão os próximos a lutar por isso.

sábado, 29 de agosto de 2009

Quadrinhos de História, história em quadrinhos

Qualquer sala de aula de qualquer nível de ensino possui seus artistas, que sempre nos divertem com caricaturas de professores e colegas, charges de situações cotidianas, e que sempre conseguem impressionar os mestres com um desenho mais elaborado daquele assunto de Biologia ou Geografia, ou mesmo de um personagem ou evento histórico.

Pois então, dois historiadores formados pela USP resolveram levar pra frente essas brincadeiras, criando personagens e elaborando uma revista em quadrinhos sobre o assunto mais passível de interpretação e - por que não? - humor: a História.

No site Quadrinhos de História encontramos personagens curiosos, como o monge que odeia copiar, Abelardo e seu amigo rato de biblioteca Aquino, ou o diabo - e devoto de Jesus - Asmodeu e até o projetista francês Gustave (ele mesmo, o Eiffel): que nos fazem rir e refletir sobre as diversas interpretações da História.

A iniciativa de Rafael Cesar Scabin e Glaumer Bernardino Alves nos subsidiam de material para tornar as aulas e atividades de História mais interessantes e divertidas para os alunos. Por que não incrementar uma prova sobre a Igreja medieval com uma tirinha de Abelardo com preguiça de copiar uma "grande" obra de Aristóteles; ou uma atividade reflexiva sobre a Abolição, na qual podemos pensar sobre os motivos que levaram a princesa a assiná-la; e que tal discutir a imagem construída sobre Tiradentes com uma charge que faz a acusação maior de plágio a Jesus Cristo?

No site, tem-se acesso a todo esse material on-line, e também há as instruções para comprar a revista impressa. Parabéns aos autores!

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Primeira página de hoje

O site do museu interativo Newseum (newseum.org) disponibiliza a visualização da primeira página diária de diversos jornais do mundo!

http://www.newseum.org/todaysfrontpages/flash/

Ao abrir o site, visualiza-se o mapa de uma parte do mundo, geralmente iniciando-se pelos EUA (origem do site). Cada ponto corresponde a um jornal editado na mesma região apontada no mapa. A partir do menu superior, é possível visualizar outras partes do mundo: toda a América do Norte, Ásia, Caribe, Europa, Oriente Médio, Oceania, América do Sul e África. Aponta-se o cursor sobre o ponto escolhido e tem-se o nome do jornal, sua localização e uma miniatura da primeira página; e clickando no ponto, disponibiliza-se a visualização em formato "jpg".

O site está em inglês - o que não chega a ser um problema, pois é muito intuitivo. Sua aplicação em sala de aula é abrangente e interdisciplinar: pode-se solicitar aos alunos que busquem jornais em diversas partes do mundo e façam comparações, definindo as diferenças e semelhanças na diagramação, disposição das manchetes e propagandas e temas regionais ou globais. Com o auxílio das áreas de espanhol e inglês, traduzir as manchetes dos jornais do mundo ajudarão muito nesta tarefa; além da leitura das imagens, que por si mesmas já informam muito sobre como está o mundo, hoje!

Vale a pena também conferir outros recursos do site: http://www.newseum.org/

Agradecimentos a Suely Piedade Santos

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Desafio National Geographic - Provas adiadas

O Comitê Gestor informa que a primeira prova do concurso Viagem do Conhecimento / Desafio National Geographic foi transferida para o dia 19 de agosto, quarta-feira.
Essa mudança foi necessária já que várias redes públicas de ensino bem como centenas de escolas particulares do país, atendendo uma orientação das autoridades de saúde, adiaram o início do segundo semestre letivo. O Comitê Gestor também decidiu prorrogar as inscrições, que agora se encerram no dia 10 de agosto.
A segunda prova (Fase Regional) foi transferida para o dia 26 de setembro, sábado.
A fase final, no entanto, foi mantida. Ela será realizada em São Paulo entre os dias 12 e 15 de novembro.
Informações retiradas de http://www.viagemdoconhecimento.com.br/

domingo, 19 de julho de 2009

Desafio National Geographic

No dia 31 de julho, encerram-se as inscrições para o Desafio National Geographic, uma espécie de "olimpíada" de Geografia, constituída por 3 fases, sendo que a primeira será realizada em cada escola inscrita, no dia 10 de agosto. Como Coordenador da rede de ensino de Itanhaém, estou em processo de mobilização das escolas municipais contempladas a participarem do projeto, que foi recebido com muita empolgação pela maioria dos diretores, coordenadores e professores.

O Desafio National Geographic 2009 está baseado no espírito de cultivar entre os jovens o desejo de valorizar e preservar a rica diversidade que se espalha pelo planeta. Ele representa um grande concurso nacional de geografia, cujo maior objetivo é despertar entre os estudantes do Ensino Fundamental e Ensino Médio o interesse por temas relevantes do mundo contemporâneo. O Desafio busca aferir o que os jovens aprenderam e como aplicam os conhecimentos de geografia para compreender a realidade cotidiana, em conexão com áreas e temas como história, cultura, meio ambiente, sustentabilidade, viagens e turismo.
A ideia é que estudantes e educadores mobilizem diferentes saberes para interpretar os mais variados cenários geográficos do Brasil e do mundo. E que reconheçam o papel de cada um ao cuidar de si, de sua comunidade e do mundo em que vivemos. A partir desse programa, os estudantes poderão aprender mais e se preparar para as diferentes etapas do Desafio.

Um ótimo trabalho a todos!

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Cinemateca Brasileira resgata acervo audiovisual jornalístico da TV Tupi

A Cinemateca Brasileira apresenta um conjunto de imagens de arquivo organizadas em uma base de dados, resultado do projeto Resgate do Acervo Audiovisual Jornalístico da TV Tupi. São reportagens de telejornais veiculados pela primeira emissora de televisão do Brasil, que foi inaugurada em setembro de 1950 e encerrou sua programação em julho de 1980.
Buscando a meta de 125 horas de imagens históricas, o banco de dados conta com um sistema de busca, no qual pode-se refinar a pesquisa através de campos como "data", "assunto", "jornal", "descritores" e até "local de produção". Agradeço à Assessora em Educação Suely Piedade Santos por me informar sobre esse acervo.

Com as novas tecnologias chegando ao cotidiano das salas de aula e a disponibilização de laboratórios de informática e projetores multimídia, ou mesmo em escolas com poucos recursos, esse banco de dados se alia à criatividade do professor em utilizar os materiais disponíveis e pode ser muito útil nas aulas de História, Arte e Geografia - ou de qualquer outra área do conhecimento. A seguir, o link de acesso ao Acervo Jornalístico TV Tupi.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Mapa da Região Metropolitana da Baixada Santista

Este foi um pedido de vários professores, devido a dificuldade em se encontrar uma mapa da região que não esteja "poluído" por informações em demasia ou com propagandas e, principalmente, um mapa em preto-e-branco.
Diante dessas solicitações, pedi ajuda a um amigo, professor George Marcel, apaixonado por cartografia e que já deu outras contribuições para este blog.

Com este mapa, será possível apresentar aos alunos uma visão geral de sua região. Como está em preto-e-branco, solicitar que pintem as cidades e as regiões dos mares e oceanos servirá para uma melhor compreensão da complexidade das divisas, e entender por que em alguns momentos é necessário utilzar-se de balsas ou pontes para se deslocar de uma cidade para outra.
Os alunos perceberão que o território de sua cidade é bem maior que suas noções subjetivas, o que poderá gerar discussões sobre perímetro urbano, perímetro rural, extensão e divisas. Assim, este mapa, aliado à imaginação do professor e à curiosidade dos alunos, será de grande utilidade.


Click na imagem para obtê-la num tamanho maior.

Se preferir a imagem no formato bitmap, faça aqui o download compactado, pois o tamanho e a qualidade do arquivo são maiores.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Jogos africanos - Yoté

O Yoté é o primeiro de uma série de jogos africanos que publicarei, aos poucos, em posts deste blog. A seguir, informações sobre o jogo e suas regras. Dicas sobre como aplicá-lo em sala de aula podem ser encontradas na postagem Jogos Africanos.

YOTÉ

Este jogo, muito popular em toda a região oeste da África (particularmente no Senegal), é uma das melhores escolhas para a introdução do educando à cultura africana e, ao mesmo tempo, convidá-lo a desenvolver seu raciocínio e sentido de observação.
Em alguns países africanos, os jogos de estratégia, como o Yoté, estão muito ligados às tradições. As táticas de jogo são verdadeiros segredos de família, passados de geração em geração; as crianças são iniciadas ao conhecimento do jogo quando estas se mostram aptas ao raciocínio estratégico. Entre alguns povos, este jogo é reservado exclusivamente aos homens, e às vezes, é usado para resolver conflitos entre eles. Outro motivo que faz o Yoté popular, principalmente no Senegal, é o fato de que os jogadores e os espectadores fazem apostas baseadas neste jogo.
Em muitos grupos infantis, as crianças costumam traçar o tabuleiro na areia, utilizando como peças pequenos cocos, sementes, pedras ou qualquer outro recurso facilmente conseguido.
Classificado entre “os melhores jogos da infância” pelo Comitê Internacional da UNICEF, este jogo desenvolve muito a sagacidade e o sentido de observação. Com uma estrutura e regras totalmente baseados em estratégia, o Yoté incentiva o educando ao raciocínio, desde o posicionamento da primeira peça até a percepção de que se ganhou ou perdeu a partida. Vale ainda destacar a semelhança das regras do Yoté com o jogo de Damas, muito popular entre os brasileiros.

Regras do Yoté
  • É um jogo de confronto estratégico para 2 jogadores.
  • Usa-se um tabuleiro de 30 casas com 24 peças, 12 de cada cor ou tonalidade.
Objetivo: Capturar ou bloquear todas as peças do adversário.
Início da partida
  • Cada jogador escolhe uma cor e coloca sua reserva de peças fora do tabuleiro.
  • Os jogadores determinam quem começa.
  • Cada jogador, na sua vez, pode colocar uma peça em uma casa vazia da sua escolha, ou mover uma peça já colocada no tabuleiro.
Movimentos: As peças se movimentam de uma casa em direção a uma casa vazia ao lado, no sentido horizontal ou vertical, mas nunca na diagonal.
Captura
  • A captura ocorre quando uma peça pula por cima da peça do adversário, como no jogo de Damas. A peça que captura deve sair da casa adjacente à peça capturada e chegar, em linha reta, na outra casa adjacente que deve se encontrar vazia.
  • Além de retirar a peça capturada, o jogador retira mais uma peça do adversário de sua livre escolha. Assim, para cada captura, o jogador exclui um total de duas peças do adversário.
  • A captura não é obrigatória.
  • Caso um jogador sofra captura de uma peça e não possua outras sobre o tabuleiro, seu adversário não poderá reivindicar a outra peça a qual teria direito.
Captura múltipla
  • Um jogador pode capturar várias peças do adversário com a mesma peça, até que não haja mais condições de pular.
  • Durante a captura múltipla é obrigatório, depois de cada captura, retirar a segunda peça antes de prosseguir com outras capturas.
  • É permitido retirar uma peça que lhe dê condição de continuar capturando outras peças.
Final do jogo
  • O jogo termina quando um dos jogadores ficar sem peças ou com as peças bloqueadas.
  • Quando os jogadores concordam que não há mais nenhuma captura possível, vence aquele que capturou mais peças.
  • Se ambos os jogadores ficarem com 3 ou menos peças no tabuleiro, e não seja mais possível efetuar capturas, o jogo termina empatado.
Algumas informações e ilustrações foram retiradas do site da empresa Ludens Spirit. Faça aqui o download das regras ilustradas deste jogo em formato PDF.
A postagem abaixo contém dicas sobre como aplicar este e outros jogos africanos em sala de aula.

Jogos Africanos em sala de aula

Em acordo com as Leis nº. 10.639/03 e 11.645/08, publico esta postagem com orientaçõe sobre como aplicar jogos africanos em sala de aula, que podem ser utilizados num projeto de ensino-aprendizagem de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Em minha experiência profissional, apresentei os jogos à 8ª série nas aulas de Ensino Religioso mas, como os jogos são muito instigantes, podem ser aplicados em todos os ciclos da Educação Básica, nas disciplinas correspondentes às leis citadas.

Através dos marcadores africanidades e jogos africanos, tem-se acesso às publicações dos diversos jogos de origem africana postados neste blog.

Esses jogos, oriundos de uma cultura aparentemente desconhecida pelos educandos, tornam-a interessante por incitar ao raciocínio. As informações sobre história, origem e regras destes jogos já alcançam o objetivo de apresentar aos alunos algo da cultura africana. Porém, neste projeto pôde-se ir além: ao final dos trabalhos, os educandos desenvolvem outros conhecimentos, como a geografia da África, seus diversos países, bandeiras e até mesmo sobre a arte e a fauna específicas do continente africano. A seguir, serão fornecidas informações sobre como foi possível conseguir estes resultados:


1ª fase: apresentação dos jogos aos educandos
Esta primeira etapa é o momento em que se deve despertar a curiosidade dos educandos para os jogos. São apresentados os textos que explanam sobre as semânticas culturais dos jogos, o mapa da África e a localização dos países em que são populares.
Aqui é muito importante ter em mãos cada um dos jogos prontos, e simular partidas em que as regras são explicadas rapidamente, deixando uma lacuna que a curiosidades dos alunos se preocupará em preencher.

2ª fase: distribuição da turma em grupos de acordo com os jogos escolhidos e material
Neste momento, os educandos são convidados a confeccionar seus próprios jogos. De acordo com cada realidade das unidades escolares, a turma é dividida em grupos que escolherão um dos jogos para serem produzidos de forma artesanal.
Com relação ao material a ser utilizado, não há limites nem restrições. Na África, as crianças que não têm o tabuleiro resolvem o problema desenhando-o na areia, assim como as crianças brasileiras utilizam meias ou garrafas de plástico como bola e chinelos ou pedras como gol. Dessa forma, qualquer material que permita a produção dos tabuleiros e das peças pode ser utilizado.
Em minhas experiências, o tabuleiro foi confeccionado com cartolina, caneta esferográfica ou hidrocor, lápis de cor e régua. As peças ficaram a critério da imaginação de cada grupo de alunos: botões de roupa, tampinhas de garrafa, papelão...

3ª fase: decoração do jogo
Necessariamente, foi solicitado aos grupos que seu trabalho contivesse: nome do jogo, tabuleiro e identificação dos educandos, turma e professor. Porém, a decoração foi feita de forma autônoma pelos alunos, devidamente orientados.
Ficou a cargo do educador fornecer informações acerca da cultura, arte e geografia africanas. Foram disponibilizados Atlas geográficos, imagens sobre África e, de forma mais saliente, materiais sobre máscaras – uma das principais expressões culturais africanas. As atividades foram realizadas durante as aulas de História e de Ensino Religioso, mas com este material pode-se chegar a trabalhos relacionados às disciplinas de Geografia e de Artes.
O resultado de todo este trabalho foram jogos que vão muito além de uma divertida partida. Foram confeccionados tabuleiros decorados com bandeiras, mapas, informações geográficas, imagens sobre o tema e – o que mais chamou a atenção dos educandos – reproduções de máscaras africanas.

4ª fase: finalização dos trabalhos e conhecimento das regras para se jogar
Neste momento, resta apenas aos educandos conseguirem as peças. Como todo jogo de estratégias, só se aprende jogando. Com o tabuleiro pronto, a cartolina repleta de cultura africana e as peças disponibilizadas, chega-se à etapa mais esperada: jogar.
O educador então orienta cada grupo acerca dos movimentos e regras do jogo. Nesta etapa, percebeu-se um grande envolvimento por parte dos educandos, talvez por dois motivos: a diversão que todo jogo proporciona e, principalmente, o fato de estarem utilizando um jogo que é o resultado de seu próprio trabalho.

Acredito que nunca uma lei foi cumprida de forma tão divertida!

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sábado, 16 de maio de 2009

Primeira transmissão de rádio da História - a evolução do som

Há dois dias atrás, publiquei uma postagem sobre a criação do Estado de Israel, devido a coincidência com o dia 14. Entretanto, um fato a ser lembrado - que para mim é de extrema importância e curiosidade - é que o 14 de maio também é o dia em que, oficialmente, foi realizada a primeira experiência de transmissão de rádio da História, em 1897 pelo cientista italiano Guglielmo Marconi. Assim, revisitando a data do post anterior, escrevo sobre esse importante evento nas telecomunicações.
O assunto me interessa muito, pois, amante da música que sou, considero este o primeiro passo para a democratização do acesso à esse tipo de arte. Claro, a música - assim como as outras artes - é naturalmente democrática, considerando-se que o ser humano utiliza-se de suas capacidades físicas e mentais para produzir e sentir a música. Entretanto, o que eu quero dizer com democratizar diz respeito a seu acesso, antes apenas local, e a partir daí irrestrito a qualquer parte do mundo. Graças ao rádio, pessoas podem ouvir músicas - de seu gosto ou não - em qualquer lugar e, principalmente, produzida e reproduzida de qualquer parte! Como se não bastasse podermos ouvir rádios de outros países e estados, com a internet e outras tecnologias atuais, podemos ter acesso a radiodifusões internacionais.

Introdução feita, volto ao destaque que fiz acima sobre o fato de Marconi ser oficialmente o inventor da radiodifusão pois, contemporaneamente a ele, um padre brasileiro fazia experimentos com o mesmo objetivo em nosso território e, não obstante, conseguiu resultados antes de Marconi.
Este é um debate semelhante ao caso da invenção do avião, disputada entre o brasileiro Alberto Santos-Dumont e os irmãos norte-americanos Wilbur e Orville Wright. Entretanto, atribuir a paternidade da radiodifusão ao padre brasileiro é algo pouco explorado na História da ciência.
De qualquer forma, temos autores que defendem que o padre Roberto Landell de Moura foi o primeiro a realizar experimentos de transmissão da voz humana através de aparelhos não conectados por fios. Entre os anos de 1893 e 1894 apresentou três aparelhos ao público: um transmissor de ondas, um telégrafo sem fios e um telefone sem fios. Dentre suas experiências públicas, a mais célebre foi a realizada do alto da Avenida Paulista ao Alto de Sant'Ana, numa distância de oito quilômetros.
Por não encontrar apoio oficial e institucional para suas experiências, padre Landell só pôde patentear seus inventos tardiamente, a partir do ano 1900. Mesmo assim, esta patente do padre-cientista brasileiro dizia respeito a um aparelho capaz de transmitir voz humana (radiofonia), sendo que o italiano Marconi, até então, só havia se dedicado à radiotelegrafia.

Debates sobre a paternidade da radiodifusão à parte, volto à questão da democratização do acesso a diferentes tipo de música referindo-me aos tempos atuais, em que o acesso à música parece ser quase totalmente irrestrito, graças à tecnologia do MP3. Este formato digital de música, desenvolvido em 1991 não foi o primeiro do gênero: sua praticidade encontra-se na compactação dos arquivos de música, antes com tamanho relativamente grande para os dispositivos de armazenamento da época. Servindo inicialmente para se ouvir e transportar músicas somente pelo computador, hoje existem mídias e aparelhos que armazenam e reproduzem esses arquivos de maneira fácil, rápida e, principalmente, portátil. Há inclusive como ouvir músicas digitais armazenadas em servidores de qualquer lugar do mundo, através do conceito de rádio on-line.
Considerando-se que até o século retrasado as pessoas só poderiam ouvir suas músicas preferidas - as que tinham acesso - ao vivo ou comprando apenas suas partituras, o avanço foi muito considerável, afetando a sociedade em diversos níveis: comportamental, comercial, industrial... até o ponto em que num passeio qualquer pelas ruas encontramos inúmeras pessoas curtindo suas milhares de músicas armazenadas em seus players portáteis equipados com fones de ouvido - e, nesse ponto, cabe questionar se, com tantas músicas, pode-se realmente aproveitá-las em sua essência.

Contudo, como esse é um blog educacional, contribuo deixando essa linha do tempo que projetei e chamei de A evolução do som, no que diz respeito aos equipamentos e tecnologias que armazenam e reproduzem músicas. (Clickando nela, pode-se visualizá-la num tamanho maior).
Nesta linha, considerei o registro das primeiras experiências de cada tecnologia, observando, por exemplo, a data do rádio, já explicada acima. Eu usei este gráfico com a 5ª série do Ensino Fundamental e com o 3º ano do Ensino Médio, dada a extensão de sua funcionalidade, pois este é um assunto muito curioso para nossos alunos, muitos deles já nascidos na era do CD ou até mesmo do MP3.
Suas aplicação são das mais diversas: pode-se, por exemplo, trabalhar o conceito de cronologia, apresentando as datas numa ordem misturada e solicitar aos alunos que as organizem; pode-se perguntar aos alunos quais aparelhos conhecem e quais deles foram inventados antes ou depois de sua data de nascimento; outra aplicação seria discutir como a evolução dos aparelhos sonoros afetou o comportamento das pessoas no ato de adquirir e ouvir música, de forma coletiva ou individual.
Conta-se que o engenheiro criador do walkman teve essa ideia ao ver um homem nas ruas carregando um enorme rádio toca-fitas estéreo conectado a fone de ouvidos, buscando escutar suas músicas sem incomodar outras pessoas. Assim, a invenção de um toca-fitas portátil foi de grande influência comportamental. Entretanto, atualmente, apesar de toda a portabilidade existente, muitos adolescentes criaram o costume de ouvir músicas através dos pequenos alto falantes externos dos celulares, abrindo mão da qualidade sonora para expor seu gosto musical a quem estiver próximo - goste do estilo da música ou não.

De qualquer forma, comportamento é algo que está em constante transformação e, dessa forma, termino minha homenagem a Marconi e Landell, os primeiros a se preocuparem com a comunicação a longa distância sem necessitar de fios e, assim, aproximando as pessoas e ajudando a democratizar o acesso a músicas de diferentes estilos e partes do mundo.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

A criação do Estado de Israel

14 de maio de 1948. Há 61 anos, foi criado o único estado judeu existente no mundo. A data de hoje é oportuna para discorrer sobre um conflito que frequentemente é visto na mídia mas, diferentemente da maioria das informações oriundas desta fonte, é apresentada de maneira confusa e passível de críticas.
Valendo-se do debate sobre abordagens políticas do tema (entre outras discussões), este é um assunto muito interessante para ser aplicado nas aulas de História, Geografia e, dentro da realidade da rede de ensino, na aula semanal de Ensino Religioso.

A Declaração de Independência do Estado de Israel foi escrita na madrugada do dia 13 para o dia 14, por David Ben-Gurion (líder do povo israelense), numa ocasião em que o novo país poderia tornar-se real, ou ser destruído. Na vizinha Jordânia, o rei Abdullah encabeça uma aliança de cinco países árabes determinados a impedir o nascimento de Israel. O Império Britânico, que havia feito o papel de pacificador nos últimos 30 anos, no dia 15 deste mesmo mês colocaria fim no Mandato Britânico na Palestina. Além disso, Ben-Gurion desafiava a ONU, que tinha seus próprios planos para a região. Entretanto, com o apoio do presidente norte-americano Truman, Israel podia ter uma chance de sobreviver - o que, no momento da escrita da Declaração, não era uma certeza.
Seis meses antes, as Nações Unidas tentavam encontrar uma solução política para a antiga questão da divisão da Palestina. Os planos seriam que o Estado judaico incluiria os portos de Haifa e Tel Aviv e todo o Vale de Negev; os árabes ocupariam a porção fértil oriental; e, finalmente, a cidade de Jerusalém ficaria sob jurisdição da ONU. Assim, os 65% dos palestinos que povoavam a região ficariam com apenas 40% da terra, desagradando o lado árabe, que pegou em armas e deflagrou uma guerra civil entre ambos os lados.
Em 12 de maio de 1948, em Tel Aviv, Ben-Gurion e seu gabinete, decidiram contra um cessar-fogo com os árabes, proposto pelos EUA. No dia 14, uma multidão se reúne em frente ao museu de arte de Tel Aviv e, em seu interior, o Conselho do Povo Judeu mais 300 testemunhas assitem a leitura, por Ben-Gurion, da Declaração de Independência do Estado de Israel.
Neste mesmo dia, no Ocidente, o presidente Truman responde aos apelos dos judeus e assina o reconhecimento do Estado de Israel e, assim como no texto da Declaração, não menciona nenhuma fronteira. Com o posicionamento dos EUA, outros países seguem a orientação e Israel torna-se uma realidade para o mundo.
Com o fim deste capítulo da história da Palestina, outro se inicia: para centenas de milhares de palestinos, o exílio está apenas começando e o rei Abdullah cumpre sua promessa de tentar destruir o novo país e inicia-se a Guerra da Independência (ou Guerra árabe-israelense de 1948). Entretanto, agora como um Estado, Israel pode comprar material bélico e acaba por vencer esta guerra. Desde o início da guerra civil, mais de 300 mil palestinos nunca retornaram às suas casas, e o mesmo padrão de conflito persiste até os dias atuais.

Voltando ao plano didático, em primeiro lugar, devemos estar atentos à nossa realidade: se a região em que se leciona não apresenta muita diversidade religiosa, é bem provável que os alunos não tenham conhecimento prático sobre o que seria um judeu ou o judaísmo. Assim, pode-se aproveitar essa falta para apresentar aos alunos as origens das práticas monoteístas. Os mapas ao lado podem ser muito úteis para se explicar a trajetória dos hebreus: sua migração de Ur à Palestina, a escravidão no Egito, o retorno e a posterior separação entre os reinos de Judá e Israel e, finalmente, a diáspora causada pela invasão romana.

Nesta oportunidade ainda de pode avançar e discutir sobre origens e sincretismos de outras religiões monoteístas, destacando o cristianismo e o islamismo.

Finalmente, após esclarecimentos sobre religião judaica e seus seguidores, é possível usar estes outros mapas para se discutir o conflito entre palestinos e israelenses, através da história da criação do Estado de Israel.
É importante, antes de se trabalhar o mapa, que fique claro para o aluno a localização geográfica do Estado de Israel, o que pode ser feito com um mapa-múndi. Esse procedimento se faz necessário para que esse conhecimento se aproxime do concreto, o máximo possível.
Para um leitura do mapa, deve-se solicitar aos alunos distinguirem as divisões através das cores. Espera-se ficar claro que a área destacada em verde corresponde à região do Estado criado em 1948, ainda com capital em Tel Aviv; entretanto, a área vermelha, composta por Colinas de Golã e Cisjordânia, em que Jerusalém inicialmente seria uma "cidade internacional" administrada pelas Nações Unidas, foi ocupada por Israel na década de 60.
Aproveitando-se dos eventos bélicos recentes, falta ainda aos alunos identificar a Faixa de Gaza, região densamente povoada por palestinos e que possui autonomia limitada.

A partir daí - escrevo por experiências próprias - naturalmente se abre um espaço em que os alunos discutem sobre qual povo realmente tem direito a esse região historicamente conflituosa. Uma boa prática seria retornar ao conhecimento das origens das religiões monoteístas e fazê-los refletir sobre o fato de ocorrer uma guerra, nomeadamente religiosa, entre dois povos que - liturgias e rituais à parte - cultuam o mesmo Deus.