quinta-feira, 23 de abril de 2009

Navegar é preciso...

Ok... acho que não poderia haver "bordão" mais óbvio do que este para servir de título para essa postagem. Por outro lado, é impossível deixar de lembrar, numa ocasião como essa, Fernando Pessoa e uma das suas mais conhecidas frases, formada por uma bela ambiguidade que gera confusões, dúvidas e discussões.
A ocasião citada refere-se ao dia 22 de abril que, além de ser a data de aniversário de Itanhaém - coincidentemente ou não - marca o encontro de duas culturas que iriam colaborar na ainda não formada identidade brasileira.
Se para Pessoa "viver não é necessário; o que é necessário é criar", foi justamente a capacidade de criação humana que permitiu navegar ser um ato preciso. No período conhecido como o das "Grandes Navegações" os cientistas desenvolveram formas de se localizar em meio a "mares nunca dantes navegados" (e então cito outro inevitável autor nesse tema, Camões), através da leitura das estrelas, orientada por instrumentos de localização.
Hoje em dia, com o GPS e a absurda funcionalidade do Google Maps, fica a cargo da imaginação e dos registros históricos pensar como os navegadores se localizavam a mais de seis séculos atrás:

Carta náutica: mapa, desenhado artisticamente com indicações detalhadas para a navegação. Esta carta foi produzida no século XIV.




Bússola: instrumento composto por uma agulha magnetizada que sempre aponta para o Norte, servindo para indicar direções.


Astrolábio: instrumento utilizado para calcular a posição e a altura dos astros, como este datado de 1608.











Continuando no raciocínio de Fernando Pessoa, o encontro de 22 de abril de 1500 não teria acontecido sem uma criação portuguesa, a Caravela. Inspirada na embarcação árabe carib, sua versão européia tinha dois ou três mastros, com velas triangulares. Era rápida e de fácil manobra. Em fins do século XV, surge um outro tipo de embarcação, a Nau. É maior e mais resistente que as embarcações precedentes, tendo sido utilizada por Vasco da Gama, na sua primeira viagem ao Oriente em 1498.


Este tema torna-se interessante ao educando quando se explora esse viés aventureiro e científico das navegações do século XV. O sentimento de descoberta fica mais latente ao perceberem que o mundo conhecido até então restringia-se à Europa, parte da Ásia e norte da África. Em experiências profissionais, pude perceber o fascínio dos alunos ao serem apresentados às embarcações, instrumentos e histórias de intempéries e lendas de monstros marinhos. Talvez a sede por descobrir o que há além dos limites de sua cidade - e muitas vezes até de seu bairro - cause uma identificação com as histórias dos navegadores.













Além disso, não se pode esquecer que os habitantes de Pindorama também não conheciam o que havia além-mar, e o inicial estranhamento recíporoco entre os povos pode gerar reflexões acerca de quem seria eu e quem é o outro.



Um comentário:

sulapiesan disse...

Eduardo

A forma como você introduz os assuntos da tua matéria é brilhante.

Cada uma das postagens mescla cultura e criatividade com um talento incrível para dizer as coisas com simplicidade e correção.

Quisera ter nascido 50 anos mais tarde para poder ser tua aluna.

Parabéns e obrigada por trazer Pessoa pra este espaço.