domingo, 1 de julho de 2012

Processos de aprendizagem para combater o fracasso escolar

Informações retiradas das vídeo-aulas da Profª Silvia Colello (Faculdade de Educação USP), para o curso de Especialização "Ética, valores e cidadania na escola" (EVC - USP/Univesp).

Do ponto de vista cognitivo, não há como aceitar a ideia de uma pessoa que é “incapaz de aprender” ou “que não faz nada”. A Profª Silvia Colello afirma que, ao longo do século XX, os estudos acerca da criança consolidaram-se como um vasto campo que, repensando concepções historicamente enraizadas, acabou por valorizar o potencial infantil não pelo viés transitório do vir a ser, mas pela legitimidade cognitiva, social, afetiva e cultural de cada etapa ou contexto. Com Piaget, descobriu-se a criança como um ser ativo na busca de conhecimento, alguém que não espera para aprender porque toma a si a iniciativa de criar hipóteses para a compreensão do mundo.
Durante muito tempo, a psicologia escolar ou a orientação educacional funcionaram como iniciativas paralelas ao ensino e independentes do projeto escolar. Incorporando a tradicional ótica psicopedagógica restrita, muitos profissionais ainda hoje centram no aluno a culpa pelo fracasso, buscando nele possibilidades de superação dos problemas de inadaptação na escola.
Colello aponta que por volta da década de 80, os educadores vão se dando conta de que a qualidade de ensino (ou a falta dela consubstanciada pelos problemas de aprendizagem) remete a outras dimensões dentro e fora da escola, propondo a instituição do ensino em nova configuração e dinâmica de trabalho. Por um lado, a orientação educacional, antes mais centrada no aluno (nas relações interpessoais e dinâmicas de classe), começa a se envolver diretamente na esfera pedagógica da vida escolar: o projeto pedagógico, o currículo, a concepção de ensino, a metodologia, a relação professor/aluno e os objetivos pretendidos. Por outro, Professores e coordenadores, tradicionalmente preocupados com as questões didático-metodológicas, percebem o processo de aprendizagem na sua relação com o indivíduo e a comunidade: seus valores, anseios, conhecimentos socialmente compartilhados, modos de aproximação com o saber, significados implícitos e explícitos das conquistas cognitivas.
A escola constata, assim, que problemas de aprendizagem configuram-se como fracasso institucional, tendo em vista os inúmeros fatores que interferem no aproveitamento dos alunos e na qualidade do ensino. Em contrapartida, o sucesso pedagógico merece ser pensado como um ideal que vai além do simples domínio de conteúdo.
Para a Profª Silvia Colello, não há dúvidas de que um dos fatores que mais concorrem para a permanência dos quadros nacionais de fracasso escolar é o descompasso entre a escola e a comunidade, cultura e aprendizagem. A educadora afirma que não aprendemos só pelo repertório de habilidades, pelo potencial de inteligência ou pela disponibilidade de estruturas cognitivas, mas também pelo que somos, buscamos, concebemos, valorizamos e fazemos. Cultura e aprendizagem são faces inseparáveis na condução do ensino e decisivas na constatação de seus resultados. Operando a partir de parâmetros elitistas, etnocêntricos e didaticamente inflexíveis, a prática pedagógica leva ao fracasso porque não está preparada para lidar com a pluralidade de contextos.

Calvin & Hobbes, de Bill Waterson (28-01-1993).

Neste caminho, é importante conhecer melhor os processos de aprendizagem e desfazer alguns mitos, como a crença que aprendizagem é consequência do ensino e se faz em etapas que podem ser controladas pelo ensino linear, cumulativo, fragmentado e inflexível.
Há outro mito que acredita que aprender é diferente de usar conhecimento, o que não se confirma quando se sabe que a aprendizagem se dá no contexto sociocultural e sua construção permeia as instância do sujeito, do outro em relação a este e do universo social e cultural, influenciado pelas ciências. A escola deve considerar esses fatores, bem como as dimensões cognitiva, afetiva e funcional do sujeito em questão, no caso, o educando, que terá o Professor mediando esse processo, por exemplo, nas esferas da interação e da linguagem.
Citando Piaget, Colello aponta que a aprendizagem, portanto, é a construção pessoal a partir das experiências vividas sob a forma de um processo complexo e multifacetado: o sujeito se vê diante de uma situação problema e, para solucioná-la, vale-se de concepções e saberes para criar hipóteses e antecipar os resultados, que só serão vistos quando feitos testes, verificações e experiências. Tais ações podem gerar surpresa ou desapontamento, levando ao desequilíbrio cognitivo que será quebrado ao se repensar as concepções e saberes para criar novas hipóteses e fazer novas experimentações.
É pensando nesse processo de construção do conhecimento que o Professor irá propor problemas, desestabilizar concepções prévias e favorecer interação para busca de soluções. Criar condições para situações de observação, experimentação e pesquisa, bem como propor novos problemas gera o debate, a reflexão, a criação, a consciência, o saber responsável, o registro e a sistematização do conhecimento.
Aprender e tornar-se usuário do conhecimento no contexto de vida permite conquistar a condição de cidadão crítico e socialmente participante.

Eduardo Carvalho
Pólo de Praia Grande

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