quinta-feira, 27 de outubro de 2011

A construção psicológica dos valores

As informações aqui dispostas baseiam-se na vídeo-aula ministrada pelo Prof. Ulisses Araújo (USP), para o curso de pós-graduação semi-presencial "Ética, valores e cidadania na escola" (EVC).

Baseando-se nas teorias de Piaget e em seus próprios estudos, o Prof. Ulisses Araújo (USP) conceitua que "os valores referem-se a trocas afetivas que o sujeito realiza com o exterior. Surgem da projeção de sentimentos positivos sobre objetos e/ou pessoas e/ou relações e/ou sobre si mesmo" (Educação e valores: pontos e contrapontos, 2007).
Assim, esses conceito contribui na conclusão de que o conteúdo dos valores morais é determinado por condições históricas. Examinando as virtudes definidas em diferentes épocas, pode-se comprovar que elas modificam-se no decorrer da História.

Na obra Ética a Nicômaco, Aristóteles faz uma síntese das virtudes, tomando como referência a sociedade da polis grega. Aristóteles distingue vícios e virtudes pelo critério do excesso, da falta e da moderação (meio-termo): um vício é um sentimento ou uma conduta em excesso ou deficiente; enquanto uma virtude é um sentimento ou uma conduta moderada.
Com a concepção da ética cristã, posterior à aristotélica, observa-se a definição de novas virtudes (as virtudes teologais), referentes à relação do cristão com Deus. Os vícios são transformados em pecados (portanto, voltados para a relação do cristão com a lei de Deus, e não diretamente para a relação com a sociedade).
O cristianismo introduz a ideia do dever para resolver o problema de que a vontade é livre, mas fraca. O dever oferece um caminho seguro para a vontade: a lei de Deus. No entanto, essa ideia cria um problema novo: se o sujeito moral encontra em seu interior normas para uma conduta virtuosa, ele não se submete a poderes externos. Mas, a vontade de Deus, que exige da pessoa seguir regras, não seria uma força externa? Em outras palavras, se a ética exige um sujeito autônomo, a idéia de dever não introduziria no ser humano a heteronomia, isto é, o domínio de sua vontade por um poder de outro?
Alguns filósofos procuram resolver essa dificuldade. Uma das respostas foi trazida por Kant, no final do século XVIII, voltando a afirmar o papel da razão na ética. Sintetizando, para Kant, somos por natureza egoístas, ambiciosos, destrutivos, agressivos, cruéis, ávidos de prazer que nunca se saciam e pelos quais mentimos, roubamos e matamos; por esse motivo, precisamos do dever para nos tornarmos seres morais.

Esses questionamentos e soluções, entre outras, historicamente passaram por críticas e são constantemente discutidas e renovadas. Em Educação, é necessário lembrar que os valores centrais (de extrema relevância para o indivíduo) e os valores periféricos (considerados menos ou nada importantes para cada pessoa) estão em constante transformação, principalmente nas crianças e adolescentes: sofrem influências externas (meio social, família, religião etc.) e internas. Ao se afirmar que é possível educar em valores, todas essas observações devem ser levadas em consideração nessa recente busca pedagógica.

Eduardo Carvalho
Pólo de Praia Grande

Referências bibliográficas:
ARANHA, Maria L. de Arruda. MARTINS, Maria H. Pires. Filosofando: Introdução à Filosofia. SP: Moderna, 2003.
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. SP: Ática, 2001.


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