quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Stress, ansiedade e depressão na infância e adolescência

Informações baseadas nas vídeo-aulas da Profª Paula Fernandes (Unicamp), para o curso de Especialização "Ética, valores e cidadania na escola" (EVC - USP/Univesp).

Atualmente, as pessoas recebem cada vez mais estímulos oriundos de diversas fontes por todo o planeta, entrando em nossas casas, em nossa vida. Considerando que tais estímulos podem ser positivos ou negativos, atrelados à visão de mundo de cada um, torna-se tarefa ainda mais difícil orientar nossos alunos, principalmente para que tirem o melhor de suas capacidades e sejam felizes, ajudando-os a não se tornarem crianças, adolescentes ou adultos ansiosos e estressados.
Das doenças em evidência no mundo contemporâneo, o stress e a ansiedade são reações do organismo diante de situações difíceis ou excitantes. Em qualquer pessoa, durante períodos de stress e ansiedade, o equilíbrio é afetado e cada órgão passa a trabalhar em ritmo diferente dos demais. Dependendo da duração dos sintomas e da interpretação dos estímulos, há a quebra da harmonia interior e enfraquecimento do organismo, gerando outros sintomas e doenças.
Especificando, a ansiedade define-se por características biológicas e psicológicas que antecedem os momentos de perigo (real ou imaginário), marcada por sensações corporais incômodas, por exemplo, vazio no estômago, taquicardia, sudorese, medo intenso, aperto no peito, rubor, calafrios, confusão. Ansiedade nem sempre é ruim, pode servir de estímulo, mas não pode ocorrer de forma prolongada ou exagerada.
Toda criança da atualidade enfrenta várias situações de stress ainda nos primeiros anos de vida (acidentes, doenças, hospitalizações, nascimento de irmãos, mudanças de casa, de escola, além das tensões geradas pela necessidade sempre maior de autocontrole). O stress infantil pode ser causado por fatores internos, relacionados às características de personalidade, pensamentos e atitudes da criança diante das situações da vida diária. Tais fatores dependem da maneira que ela percebe a si mesma e ao mundo à sua volta. Externamente, o stress pode acontecer devido a mudanças significativas, responsabilidades e atividades em excesso. Quando a ansiedade e  stress não são tratados, podem gerar outros quadros de patologias.
Diante dessa conjuntura, o professor deve estar atento, procurando conhecer e conversar com seus alunos, motivando-os e incentivando-os a fazerem perguntas, escutá-los sem fazer críticas ou julgamentos, respeitando o ritmo de cada um. Promover a autoconfiança, atividades em grupo e, quando surgir a oportunidade, atividades calmas podem colaborar na saúde da criança para que ela consiga enfrentar as mudanças que ocorrem em sua vida, com desenvolvimento mais saudável na escola, em casa, no esporte, no lazer.

Também presente entre crianças e adolescentes, a depressão é um transtorno de humor ou de afeto, com sentimento de tristeza profunda, associado a sintomas fisiológicos e cognitivos na pessoa, que demonstra humor deprimido, perda de interesse e prazer por atividades anteriormente satisfatórias, diminuição de energia, falta de ânimo.
Na escola, é possível perceber os alunos quando apresentam vários sintomas, como queda do rendimento escolar, falta de concentração, perda de interesse, falta de motivação, pensamento mais lento, impulsividade, irritabilidade, choro fácil, isolamento na sala de aula e nos intervalos, dificuldades nos processos cognitivos.
Para prevenir esses males, é necessário fortalecer as condições que garantam a busca por ajuda em todos os contextos (família, trabalho, escola, comunidade etc.).

Calvin & Hobbes, de Bill Watterson, 22.10.1992.

Eduardo Carvalho
Pólo de Praia Grande

A potência do trabalho em rede e ações em comunidade

Informações baseadas nas vídeo-aulas da Profª Patrícia Grandino (USP) e do Prof. Edson Azevedo, para o curso de Especialização "Ética, valores e cidadania na escola" (EVC - USP/Univesp).

O conceito de comunidade vem recebendo novas abordagens devido às constantes mudanças e revisão de valores na contemporaneidade: é necessário tornar-se cidadão do mundo globalizado sem perder referências e pertencimento à comunidade de origem. Além disso, nesta realidade também dominada pelo capitalismo, faz-se necessário conciliar a competição que estimula a cooperação que reforça e a solidariedade que une.
A comunidade é uma realidade social que garante a permanência de laços sociais mais estreitos, são locais de afirmação da identidade de sujeitos e grupos, com presença de afetos e sentimentos de pertença e potencial de solidariedade pelo reconhecimento recíproco (família, associações, igreja). Assim, podem ser consideradas espaços privilegiados de garantia e exercício da cidadania.
O trabalho em rede, já abordado em outras postagens deste blog, permite potencializar os recursos da comunidade, fortalecer a implicação dos diferentes atores, problematizar as questões emergentes da comunidade coletivamente e identificar estratégias de enfrentamento compartilhadas.

Uh-Batuk-Erê
Um exemplo de ação em rede numa comunidade é o projeto Uh-Batuk-Erê, apresentado pelo Prof. Edson Azevedo. Realizado numa escola municipal de São Paulo, tem como objetivo estabelecer diálogo entre os diversos saberes e tradições, identificando as etnias que formam o povo brasileiro.
Isso foi possível promovendo a arte como mediadora do multiculturalismo presente na identidade brasileira, orientada pela pedagogia da autonomia, da emoção do saber fazer consciente.
Seguindo os conceitos de Educação comunitária, foram realizadas oficinas, fóruns, trilhas culturais e de observação do entorno, apresentações, entre outras ações que permitem o desenvolvimento do protagonismo, quando os alunos trazem a comunidade para dentro da escola.
O resultado é um diálogo permanente entre o sentimento e ação, num processo contínuo de formação, que aproxima seus componentes. Perceberam-se melhoras na relação como grupo, atuação e envolvimento no espaço escolar, compartilhamento de ações coletivas, encontros comunitários, redução de preconceitos e desigualdades. Resultados concretos e mensuráveis, ressignificando a escola como elemento agregador, envolvendo a comunidade, valorizando o saber popular associado ao sistematizado, construindo a cidadania com emoção e conhecimento, formando e fazendo história.

Eduardo Carvalho
Pólo de Praia Grande


Substâncias psicoativas, mídia e comportamento

Informações baseadas nas vídeo-aulas do Prof. Li Li Min (Unicamp), para o curso de Especialização "Ética, valores e cidadania na escola" (EVC - USP/Univesp).

A Profª Renata Azevedo (Unicamp) define como psicoativas as substâncias que agem no sistema nervoso central e produzem alterações de percepção, de sentimentos, de sensações e que são percebidas como prazerosas pelas pessoas que a usam.
Do ponto de vista legal, tais substâncias são classificadas como ilícitas e lícitas (mas que também sofrem restrições) e se diferenciam também pelas formas de agir no cérebro e tipos de alterações que produzem: quando são buscadas, as pessoas desejam um tipo de efeito específico, como diminuição da ansiedade, relaxamento, desinibição, alegria e experiências alucinógenas. No caso dos adolescentes, geralmente o padrão de uso é anárquico, por vezes misturando substâncias diferentes, aumentando o potencial dos danos causados.
Cigarro, de Roberto Weigand
 O uso das substâncias psicoativas tem componentes ambientais, sociais, genéticos e neurobiológicos, com consequências individuais e coletivas: problemas de relacionamento, baixo desempenho escolar, dificuldade de manutenção das atividades diárias, conflitos familiares, ocupacionais, acidentes de trânsitos, enfermidades etc.
Nos últimos anos, o consumo dessas substâncias vem aumentando progressivamente, e têm sido experimentadas em idades mais precoces. Na adolescência, a curiosidade por novas experiências necessita de constantes orientações pela família e professores, assim como da coerência dos adultos em relação aos padrões de consumo e conceitos de diversão. Os jovens com quadro de baixa auto-estima, desempenho insatisfatório na escola, má aceitação da própria aparência, socialização negativa, entre outros fatores, apresentam maior vulnerabilidade ao uso de substâncias psicoativas.

No caso da citada socialização, a Profª Lilia Freire de Souza (Unicamp) a explica como o processo através do qual o ser humano interioriza valores, crenças, atitudes e normas de conduta que são próprios de seu grupo social ou sociedade, incorporando-os à personalidade. Pelo seu acesso universal, sem deslocamento e pela sua eficiência, a mídia constitui um importante meio de socialização: retrata modelos de conduta de uma determinada maneira, seleciona informações e conhecimentos, fornece estímulos.
As crianças são facilmente influenciadas pela mídia: aprendem por observação, imitação e pelas suas próprias atitudes. Comportamentos agressivos são aprendidos pela reprodução dos modelos observados e as crianças de faixa etária menor não diferenciam entre fantasia e realidade, tornando-se muito vulneráveis.
O excesso de contato com a mídia pode causar impactos negativos, no que diz respeito ao desenvolvimento psicomotor e da sexualidade, exposição à violência, transtornos alimentares, problemas escolares e má influência no uso de substâncias psicoativas, principalmente no que se refere às propagandas de bebidas alcoólicas de apelo sexual. Além disso, há o efeito da mídia como substitutivo de outras atividades: menos atividade física, menor gasto energético com maior obesidade, diminuição da leitura e da interação com os amigos.
Assim, é também papel da escola privilegiar os conceitos de mídia em seu currículo, buscando a conscientização para o contato saudável com tais meios, de forma a aprimorar a identidade e o senso crítico.

Eduardo Carvalho
Pólo de Praia Grande

Lazer, cultura e elementos comunitários - juventude e esportes de aventura

Informações baseadas nas vídeo-aulas do Prof. Ricardo Uvinha (USP), para o curso de Especialização "Ética, valores e cidadania na escola" (EVC - USP/Univesp).

O sociólogo francês Joffre Dumazedier define o lazer como um conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, após livrar-se do compromisso de suas obrigações, podendo ser realizado em três dimensões: descanso, divertimento e desenvolvimento.
Os conteúdos culturais do lazer podem ser de interesses artísticos (relacionados a imagens, emoções, sentimentos de conteúdo estético na busca pela beleza), intelectuais (busca de informações objetivas, racionais, conhecimento vivido, preso à realidade), manuais (desenvolvendo a capacidade de manipulação para transformar objetos ou materiais e para lidar com a natureza), sociais (procura pelo relacionamento, pelo contato pessoal), físicos/desportivos (atividades onde prevalece o movimento) e interesses turísticos (busca pela quebra da rotina espacial e/ou temporal e pelo contato com novas situações, paisagens e culturas).
Para a vivência desses conteúdos, os equipamentos de lazer não-específicos foram construídos originalmente sem esta finalidade, mas eventualmente cumprem o papel quando, por exemplo, a rua simula uma quadra de esportes ou o espaço escolar é utilizado para o lazer e para a prática de esportes em localidades carentes de equipamentos de lazer específicos.
A especificidade de tais equipamentos ocorre quando são subordinados aos conteúdos culturais do lazer (academias de ginásticas, clubes, resorts, parques etc.) e sua sistematização deve ser feita conforme o conceito, programação, localização, atendimento, público e composição. Os equipamentos de lazer devem atender à população de forma democrática e receber efetiva política de animação cultural, através de agentes socioculturais que cumprem importante papel na sensibilização para usufruto do espaço.

Dentre os equipamentos específicos de lazer, atualmente são comuns aqueles voltados à prática de esportes de aventura. Isso ocorre, entre outros motivos, pela preferência do jovem a este tipo de atividade, pois esse grupo está sujeito ao "lazer mercadoria", de grande interesse da indústria cultural e agências de publicidade. A motivação dos jovens está, principalmente, na busca por novas experimentações.
O fato é que este tipo de lazer nos permite identificar a cultura e identidade dos diversos grupos, chamados comumente de "tribos", com suas relações interpessoais e de gênero, linguagem, vestimenta e música específicas, além de ocuparem espaços físicos denominados pela Antropologia de pedaços: termo que designa espaços intermediários entre o privado (casa) e o público (rua), de ordem espacial e de ordem simbólica (composto de uma ampla rede relações sociais).
Foto: Eduardo Braz
Fonte: Revista Nova Escola
Apesar dos esportes de aventuras parecerem muito distantes da realidade escolar, são conhecidas experiências de adaptações em escola brasileiras, ressignificando o uso dos equipamentos existentes ou aqueles trazidos pelos próprios alunos que já têm contato com este tipo de atividade. Outra opção seria levar os alunos aos espaços que possuem os equipamentos específicos para essas práticas. Tudo isso promove a socialização, a aquisição de novos conhecimentos, experiências e noções de Ecologia, tão valorizada por esses esportes.

Dessa forma, é possível a compreensão das múltiplas experiências do lazer vivenciadas pelo jovem no seu tempo livre, destacando os momentos de acentuada relevância em termos de valores e expressão de signos sociais desta cultura juvenil multifacetada e em constante transformação.


Eduardo Carvalho
Pólo de Praia Grande

Violência na escola e bullying

Informações baseadas nas vídeo-aulas do Prof. Li Li Min e da Profª Paula Fernandes (Unicamp), para o curso de Especialização "Ética, valores e cidadania na escola" (EVC - USP/Univesp).
 
A Profª Lilia Freire de Souza (Unicamp) relaciona a violência na escola a problemas psicológicos e comportamentais na adolescência, que podem ser manifestados internamente por meio de perturbações emocionais e cognitivas, como depressão e ansiedade, e externalizados em problemas comportamentais ou de atuação, sendo o mais comum o comportamento delinquente.
Esse distúrbio de conduta é um transtorno caracterizado por um padrão de comportamento anti-social repetitivo e persistente em crianças e adolescentes. Às vezes é classificado como psicosocial ou como psicopatológico, inclui a desobediência, brigas, destrutibilidade, mentira e furto.
A agressão física na infância deve ser vista como um problema de saúde pública, pois crianças agressivas são de grande risco em se tornar adolescentes e adultos violentos. Além disso, a agressão física é precursora de problemas mentais na vítima e também no agressor (abuso de álcool e drogas, acidentes, crimes violentos, tentativas de suicídio, relações abusivas e paternidade negligente e abusiva).
Os fatores de risco para distúrbios de conduta e delinquência são individuais (características biológicas, comportamentais e cognitivas do indivíduo) e contextuais (familiares e sociais), quando não há disciplina e limites no núcleo familiar ou o indivíduo pertence famílias disfuncionais ou com doenças mentais nos pais, além dos riscos sociais que podem afetar a criança. Vários fatores de risco de forma cumulativa resultam em sofrimento físico e emocional, levando à delinquência juvenil.
Práticas parentais inadequadas e exposição repetitiva à violência são causas que promovem a violência a longo prazo, bem como o consumo de álcool e drogas e inserção em gangs são consideradas causas a curto prazo. No ambiente escolar, a violência está associada a fatores como desempenho insatisfatório, baixa auto-estima, muitas mudanças de escola, população escolar com alto uso de drogas, entre outros.

Das formas de violência escolar, atualmente o bullying é a que está sendo tratada de forma mais abrangente. Sobre este assunto, uma postagem deste blog, O fenômeno do Bullying, também escrita para o curso de Especialização "Ética, valores e cidadania na escola" (USP/Univesp), trata dos pontos principais deste comportamento.
Entretanto, é sempre importante reforçar que a identificação precoce, informação e conscientização, encaminhamento clínico ou terapêutico e programas anti-bullying, com orientação aos pais, professores e alunos sobre estratégias de lidar com o problema e medidas de controle de comportamento, podem contribuir na diminuição deste fenômeno e tornar o ambiente mais agradável, seguro e acolhedor.

Eduardo Carvalho
Pólo de Praia Grande

Transformações sociais, currículo e valorização da cultura corporal da comunidade

Informações baseadas nas vídeo-aulas do Prof. Marcos Neira (USP), para o curso de Especialização "Ética, valores e cidadania na escola" (EVC - USP/Univesp).

Atualmente, a Globalização é uma realidade presente em nossas vidas, contribuindo para a construção de um contexto democrático que se amplia ao redor do mundo, caracterizando as sociedades de forma multicultural. A função social da escola nesta conjuntura está, entre outros fatores, ligada ao currículo, que pode ser definido como toda experiência proposta pela escola, ou a partir dela e, portanto, é uma prática social que forja identidades.
Sobre as teorias curriculares, as tradicionais (ainda resistentes em algumas escolas) objetivam recortar um pedaço da cultura considerada erudita, válida e importante por parte de alguns grupos restritos, e fazer com que essa cultura chegue aos alunos apenas de forma transmissiva, não colocando em questão o valor desses conhecimentos.
A contracultura iniciada nos anos '60 desenvolveu teorias críticas que prosseguiram até os anos '80, questionando o emprego do currículo como instrumento de manutenção das desigualdades sociais. Na sequência desse processo, as teorias pós-críticas, contemporâneas, definem que não são as relações de poder baseadas em classes sociais que interferem na seleção de conteúdos, pois estes incorporam tais questões, mas privilegiam também as de gênero, etnias, crenças, localidades, faixas etárias etc.

Ainda neste contexto, a cultura passou a ser considerada enquanto campo de lutas simbólicas para validação de significados e, dessa forma, a cultura corporal passa a ser toda produção simbólica que envolve as práticas corporais, como um conjunto de conhecimentos que envolve brincadeiras, danças, lutas, ginásticas, esportes.
Fonte: Coxixo
Todos os grupos culturais também possuem uma parte da cultura que se refere às práticas corporais, atribuindo representações específicas a essas práticas. Considerando o gesto como um movimento com significado, cada comunidade produz uma gestualidade que lhe permite veicular as percepções de mundo, e as manifestações corporais agregam os elementos da gestualidade sistematizada, cultivando determinados textos da cultura corporal.
Dessa forma, ao se construir um currículo, torna-se necessários considerar alguns princípios, como enraizar as diversas identidades existentes na comunidade em torno da escola e, dessa forma, praticar a justiça curricular privilegiando as várias manifestações de cultura corporal. Diversificar experiências para que as diferenças sejam valorizadas, evita o chamado "daltonismo cultural", observando também a ancoragem social dos conteúdos para que o currículo esteja relacionado à vida como um todo, mesmo fora do horário escolar.
Para alcançar este currículo justo e diversificado, é preciso fazer o mapeamento da cultura corporal para que se possam realizar ressignificações das práticas, aprofundamento e ampliação dos conhecimentos, permitindo que, em cada manifestação desta cultura, seja permitido aos que estão nela inseridos reforçar suas experiências, ao mesmo tempo em que outros passam a ter contato com culturas corporais antes desconhecidas.

Eduardo Carvalho
Pólo de Praia Grande

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Sexualidade e prevenção de risco na escola

Informações baseadas nas vídeo-aulas do Prof. Li Li Min (Unicamp), para o curso de Especialização "Ética, valores e cidadania na escola" (EVC - USP/Univesp).

De acordo com as informações fornecidas pela Profª Marici Brás (Unicamp), a abordagem da sexualidade encontra dificuldades nos preconceitos, tabus e no pudor que envolvem o tema. Entretanto, a Educação sexual é importante, por exemplo, na prevenção de DSTs e gravidez e abortos em adolescentes.
Para tanto, deve-se considerar que a sexualidade existe desde o nascimento, e no desenvolvimento do indivíduo as diferentes zonas corporais proporcionam gratificações de prazer em etapas: a fase oral, a fase anal, a fase fálica ou genital infantil, a fase de latência e fase genital adulta.
A adolescência é um período de luto pela perda do corpo, figura dos pais e identidade relacionados à infância. Durante seu início, ocorrem as transformações físicas e fisiológicas, a imagem corporal torna-se questão central e são redefinidos os modelos de relacionamento. A segunda fase define-se pelas últimas transformações físicas e assimilação harmoniosa do papel pessoal, familiar e social, além do conflito entre desejo de independência e necessidade de dependência. Em sua fase final, a consolidação da última etapa do desenvolvimento físico, a formação da identidade sexual e de adulto, as experiências de relacionamento íntimo e alcance da independência material.
Nesta faixa etária, também se iniciam as práticas sexuais: masturbação, "ficar", namorar, relações sexuais propriamente ditas, questões sobre homossexualismo e casos de relação sexual forçada.
De forma positiva ou não, a iniciação sexual é considerada um rito de passagem entre infância, adolescência e juventude; e o exercício da sexualidade se faz em um meio delimitado por preconceitos e rituais.

Assim, a Profª Marici, junto à Profª Lilia Freire Souza (Unicamp), discutem questões sobre a polêmica possibilidade de distribuição de preservativos nas escolas que, se feita de forma a respeitar a intimidade de cada estudante, recebe muitos adeptos, na mesma proporção de pessoas que discordam da ideia.
De qualquer forma, o uso de preservativos deve ser abordado na escola, utilizando a sexualidade como tema transversal, através de dinâmicas de grupo. Abrir este espaço permitirá discutir, por exemplos, uso ou não do preservativo relacionado ao afeto e à fidelidade, a dupla proteção com anticoncepcionais, a gravidez na adolescência e a responsabilidade compartilhada na relação e na prevenção sexual entre o casal.

Eduardo Carvalho
Pólo de Praia Grande

A cidade como projeto educativo, com a cartografia e a representação de lugares

Sonia Castellar (USP)

Para pensarmos a cidade, temos que relacioná-la com a escala de análise. Com o auxílio da Geografia e da Cartografia, fazer a diferenciação da organização do território com limites em função de seu tamanho (população, cidades, países, regiões), da escala de significado, que estabelece o nível de interpretação.
A partir daí, pode-se retomar o conceito de Cidade Educadora, ao fazer da cidade um objeto de Educação geográfica, significando superar a superficialidade conceitual e estabelecer uma relação mais eficaz entre o saber formal e o informal. Os alunos descobrem que a cidade é mais do que uma decodificação das informações que ela revela na sua aparência, mas pode-se descobrir a sua estrutura, sua gênese e função.
Para estudar a cidade é importante ter todos os aspectos ao mesmo tempo: território, local de vivência, circulação diária etc. As representações simbólicas do lugar são diferentes em função das práticas e da história de cada indivíduo.

Assim, ao se trabalhar a temática urbana, é necessário conhecer os vários enfoques a serem desenvolvidos individualmente ou de forma mais eficiente e conjunta. O enfoque será morfológico se no estudo a ênfase for a descrição das formas construtivas e visíveis, por exemplo, a classificação dos bairros, os tipos de edificações, a rede de circulação, os tipo de estabelecimentos, a rede social (escolas, hospitais, postos de saúde...). No caso do enfoque histórico, o ensino se organiza a partir dos relatos da biografia da cidade e da vida de seus habitantes, das mudanças e permanências através do tempo. Já o enfoque ambiental é realizado quando a problemática for o meio ambiente, como na análise do meio físico e os impactos das construções.
Este estudo da cidade tem por finalidade conhecer como vivem as pessoas, como funcionam as cidades e as redes de circulação, a qualidade de vida, bem como o auxílio na elaboração do plano diretor e na análise ambiental.
Um aplicativo que pode auxiliar em atividades com temática urbana está no site da Revista Nova Escola, Daqui pra lá, de lá pra cá, um jogo para pensar sobre relações espaciais, no qual os alunos vão colocar em prática conhecimentos geométricos de orientação espacial.

Para tanto, também se faz necessário o conhecimento da Cartografia e dos métodos de leitura de mapas, pois analisá-los é o mesmo que aprendermos a ler um texto criticamente, e então se pode desvendá-lo ideologicamente, suas intenções e opções teórico-metodológicas. Ao se copiar ou produzir sob um conjunto rígido de técnicas, não se aprende a lê-lo. O mapa reproduz um sistema de valores sociais que são culturais e históricos, são como construções culturais de discursos sobre o território: é possível ler a sociedade pelos seus mapas.
Um exemplo de atividades com mapas e sua leitura crítica pode ser encontrada em uma das postagens deste blog, Trabalhando com mapas históricos, no qual é possível verificar a expansão do território brasileiro desde a chegada dos portugueses com as Capitanias Hereditárias, até a atual divisão em Unidades Federativas. Tema recente também a ser trabalhado em sala de aula é o plebiscito ocorrido no estado Pará, como a finalidade de o dividir em mais dois novos: Tapajós e Carajás. Sobre este assunto, é possível verificar no portal UOL um infográfico com a evolução territorial do Brasil e os projetos de lei que tramitam na Câmara dos Deputados, visando a criação de novos estados.


Eduardo Carvalho
Pólo de Praia Grande

TDAH e Autismo

Informações retiradas das vídeo-aulas da Profª Paula Fernandes (Unicamp), para o curso de Especialização "Ética, valores e cidadania na escola" (EVC - USP/Univesp).

O Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) é comportamental e neurobiológico, de causas genéticas e ambientais, que aparece na infância e pode acompanhar a pessoa por toda a vida. É caracterizado pela tríade sintomatológica: desatenção, hiperatividade, impulsividade. Causa prejuízos no desempenho acadêmico e em relacionamentos interpessoais.
No que se refere aos sintomas da desatenção, percebe-se que a criança tem dificuldade de prestar atenção a detalhes, facilmente distraída com estímulos alheios. Por vezes passa a impressão de que não escuta quando falam com ela e não segue instruções. Tem dificuldade de organização, não termina suas terefas, comete erros por descuido e perde coisas importantes. Sobre a hiperatividade, resulta na criança não conseguir envolver-se em atividades silenciosas, estar sempre muito ativa, agitando mãos e pés ou se remexendo na cadeira; apresenta dificuldade de permanecer sentada, corre exageradamente ou fala demais. Já a criança impulsiva dá respostas precipitadas a perguntas não terminadas, tem dificuldade de aguardar sua vez e interrompe ou se intromete em conversas alheias.
Muitas vezes esses comportamentos passam despercebidos pelos pais e, portanto, aqui está mais uma das exigências da sociedade em relação ao papel da escola.
Para o professor não diagnosticar, mas sim perceber o aluno com sintomas de TDAH, estes são mais evidentes quando há alteração nas habilidades linguísticas do aluno, que também pode apresentar falta de noção de espaço e dificuldade de reconhecer e diferenciar símbolos gráficos, bem como não conseguir ficar sentado e prestar atenção. Há que se notar também se existe pouca coordenação motora e tendência em estar sempre em movimento, provocando dificuldade em terminar as tarefas propostas.
Entretanto, o diagnóstico do TDAH deve ser clínico (avaliação com a criança, pais e escola), com posterior tratamento multidisciplinar e específico: medicações, psicoterapia, envolvimento da família e da escola. Nestes casos, as possibilidades de intervenção escolar compõem-se em ajudar a criança, a família e os professores a compreender os sintomas e os prejuízo do TDAH, desfazer rótulos prévios, melhorar a auto estima do aluno, criar um calendário diário de atividades, prestar reconhecimento e elogios, entre outras ações que possam interferir positivamente nessas crianças.

No caso do Autismo, define-se como um transtorno invasivo do desenvolvimento, com prejuízo na interação social, atraso na aquisição da linguagem e comportamentos estereotipados e repetitivos. Pode ser identificado com 2 anos e meio de idade quando se percebe que a criança não fala, resiste aos cuidados paternos e não interage, ou mesmo quando ainda bebês apresentam déficit no comportamento social, evitam contato visual, sem interesse na voz humana e mostram-se indiferentes ao afeto. Outros fatores de identificação são a criança não seguir os pais pela casa e não ter interesse em brincar com seus pares.
Em geral, elas têm interesse por brincadeiras estereotipadas: movimento da roda, cheirar e lamber objetos, bater palmas e movimentar o corpo para frente e para trás, com fascinação por luzes, sons e movimentos, além de incomodarem-se com mudanças na sua rotina diária e ter a inteligência e a linguagem comprometidas.
Essas características podem ajudar a identificar alunos autistas na escola, também pela percepção de ataques de raiva numa mudança de rotina e resistência em aprender novas atividades. Tais crianças necessitam de tratamento individualizado e intervenções conjuntas, como educação especial na escola, aconselhamento de pais, terapia comportamental, treino de habilidades sociais, medicações para melhorar a qualidade de vida e a adaptação.

Eduardo Carvalho
Pólo de Praia Grande

Educação Comunitária, Democracia e Direitos Humanos na escola

Informações retiradas das vídeo-aulas da Profª Ana Maria Klien (Unesco), para o curso de Especialização "Ética, valores e cidadania na escola" (EVC - USP/Univesp).

A Educação comunitária, antes associada à Educação não-formal e caracterizada por processos educativos coletivos, passou a incorporar o contexto escolar a partir dos anos '80, intensificando-se na década de '90, sendo caracterizada pela democratização do espaço e das relações, da participação de todos os envolvidos, da melhoria da qualidade da Educação. Seu objetivo é o desenvolvimento do "sujeito coletivo", isto é, de pessoas que se compreendam em meio à coletividade, que se tornem co-responsáveis pelas ações, relações, conflitos e decisões que ocorrem na comunidade.

Os diferentes contextos deste tipo de Educação definem-se pela rede social e educativa de relações à qual pertencem a escola, a família e outras organizações. As demandas e os interesses da comunidade passam a fazer parte da escola, do currículo e do trabalho pedagógico.

Neste contexto, as Cidades Educadoras, que surgiram no início da década de '90 na Espanha, têm como ideia central que a escola sozinha não tem condições de construir todos os conhecimentos e informações necessários ao mundo contemporâneo. Com isso, a Educação também deve ser competência da cidade.
O educador Jaume Trilla destaca três dimensões possíveis para a relação educação-cidade: aprender na cidade (recursos materiais, bens culturais, instituições governamentais ou não etc.), aprender da cidade (conhecimentos e práticas regionais, positivos e negativos), aprender a cidade (sentir-se parte de um todo, tornar-se cidadão ativo, preocupando-se com o bem estar social).

Assim, para realizar a Educação comunitária, é necessário, inicialmente, mapear, ou seja, praticar ação ampla que visa o olhar para as potencialidades da comunidade na qual a escola se insere. Em seguida, definir as trilhas educativas, isto é, o contexto pedagógico direcionado por temas específicos, que podem ser oriundos de uma intencionalidade e de uma objetividade, ou dados pela percepção das pessoas acerca da comunidade: desafios, potenciais (humanos, equipamentos, locais) e como elas se implicam. Por fim, os projetos transversais e interdisciplinares, a partir de um tema, articulam a realidade com os conteúdos curriculares, a formação em valores, a consciência crítica e a cidadania ativa.

Associados aos objetivos da Educação comunitária, os Direitos Humanos são comuns a todos, sem distinção de etnia, sexo, nacionalidade, condição social, nível de instrução, religião, opinião política, orientação sexual ou qualquer tipo de julgamento moral. Decorrem do reconhecimento da dignidade intrínseca de todo ser humano.
Na escola, Direitos Humanos se traduzem em conhecimentos, valores e ações necessárias à formação dos cidadãos em sociedades democráticas, e ao desenvolvimento integral do ser humano.

O filósofo e pedagogo John Dewey associou a democracia a um modo de vida. Na escola, trata-se de viver democraticamente, e não do domínio de conceitos. Por ser um modo de vida, a democracia é uma expressão ética, exigindo uma formação que enfatize a personalidade (individualidade) e a cooperação (responsabilidade pelo bem social). Para atender a esta necessidade formativa, a escola deve preparar o indivíduo para que ele pense e dirija-se por si, com responsabilidade e compromisso, num ambiente promotor dos Direitos Humanos.

Todos unidos através dos Direitos Humanos!, da aluna Ana Darla, 8ª série, 2008.

Portanto, a formação humana que se destina à ordem democrática e à construção de uma sociedade promotora dos Direitos Humanos se realiza por meio da Educação em Direitos Humanos, educando para e pela democracia. De acordo com o documento do Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos de 2009, a EDH visa a formação de sujeitos de direitos por meio do conhecimento e do respeito aos seus direitos; mais do que isso, pretende que essa formação traduza-se em ações, em um modo de conduzir a vida pessoal e social. Neste sentido, a EDH é, antes de tudo, um modo de vida que deve orientar a convivência social e escolar. Por caracterizar-se como um processo sistemático e multidimensional, seu desenvolvimento se dá mediante a articulação de cinco dimensões: a apreensão de conhecimentos, a afirmação de valores, a formação de uma consciência cidadã, o desenvolvimento de processos metodológicos e o fortalecimento de práticas individuais e sociais.

Assim, a EDH deve ser promovida em três campos: epistemológico (conhecimento e habilidades), axiológico (valores, atitudes e comportamentos) e práxis (ações práticas) e sua inserção curricular pode ser realizada através da pluridisciplinaridade, da transdisciplinaridade e interdisciplinaridade. Entretanto, os estudos realizados até aqui concluem que a Educação em Direitos Humanos tornar-se-á mais interessante e eficiente através da prática da transversalidade, em eixos temáticos.

Eduardo Carvalho
Pólo de Praia Grande


terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Crescimento, desenvolvimento ponderal e distúrbios alimentares

Informações baseadas nas vídeo-aulas do Prof. Li Li Min e da Profª Paula Fernandes (Unicamp), para o curso de Especialização "Ética, valores e cidadania na escola" (EVC - USP/Univesp).

De acordo com as informações fornecidas pela Profª Lilia de Souza Li (Unicamp), o crescimento corporal de cada indivíduo é variável, como resultado da maturação óssea e perpassa três períodos: a primeira infância (até os 3 anos de idade), a segunda infância (de 4 a 8 anos) e a puberdade (dos 9 aos 17).
Até os 3 anos de idade, a criança cresce progressivamente menos centímetros por ano, passando por um período de crescimento mais estável entre 5 e 10 anos, seguido por um segundo período de desaceleração até o início da puberdade, quando ocorre o estirão puberal e o(a) adolescente desenvolve-se com mais intensidade.
Para acompanhar o crescimento, fazem-se úteis os gráficos de crescimento (que comparam a altura da criança com a altura da população como um todo), além da necessidade de avaliar estatura e peso com o Índice de Massa Corporal (IMC) e da observação da idade de início de caracteres sexuais secundários.
O crescimento é influenciado (positiva ou negativamente) por atividades físicas, pelo sono profundo (quando o GH, hormônio do crescimento, é liberado), por doenças crônicas e pela nutrição, da qual faz parte a alimentação que recebe nos horários escolares.

Dessa forma, a estatura final do indivíduo é definida por fatores genéticos e ambientais, e nestas duas esferas encontram-se também os distúrbios alimentares.
Fonte: Portal São Francisco
A alimentação é importante para nossa saúde, e deve ser equilibrada, completa, variada. Assim, os distúrbios alimentares definem-se pela interação de fatores psicológicos, biológicos, familiares e socioculturais, gerando alterações significativas no comportamento alimentar.
Os principais problemas dessa natureza são a obesidade, a anorexia e a bulimia nervosas. A psicopatologia central das duas últimas advém da preocupação excessiva com o peso e a forma corporal (medo mórbido de engordar), numa auto-avaliação baseada na aparência física, com a qual as adolescentes se mostram sempre insatisfeitas, fazendo dietas extremamente restritivas ou gerando um descontrole no comportamento alimentar e, em diversos casos, faz-se uso de métodos inapropriados para alcançar o corpo idealizado.
Já a obesidade é um distúrbio do metabolismo energético, onde ocorre um armazenamento excessivo de energia no tecido adiposo, sob a forma de triglicérides. É uma doença complexa, multifatorial, com sobreposição de fatores genéticos, comportamentais e ambientais.

Prato com a alimentação essencial e saudável,
conforme proposta traduzida do site Choose My Plate
Dentre as diversas exigências da Educação contemporânea, cabe também aos professores a aprendizagem sobre os distúrbios alimentares, para assim perceberem a existência desses fatores em seus alunos. Em casos como estes, a orientação por parte do professor ganha relevância no diagnóstico e tratamento de tais problemas, principalmente quando o profissional docente incentiva os alunos com distúrbios a buscar ajuda e fornece o suporte necessário para que estes jovens indivíduos superem suas dificuldades.

Eduardo Carvalho
Pólo de Praia Grande

Protagonismo juvenil e participação escolar nas questões de gênero

Informações baseadas nas vídeo-aulas do Prof. Ulisses Araújo  e Profª Valéria Arantes (USP) para o curso de Especialização "Ética, valores e cidadania na escola" (EVC - USP/Univesp).

Baseado no conceito de que "a Educação deve promover o acesso aos bens culturais exigidos pela sociedade contemporânea e garantir uma formação política que permita aos jovens participar da vida social de forma mais crítica, dinâmica e autônoma" (Prof. Ulisses Araújo, USP), faz-se importante incentivar o protagonismo de nossos educandos na busca por soluções de problemas dentro e fora da sala de aula.
Para isso, pode-se recorrer às chamadas "metodologias ativas de aprendizagem", ou seja, práticas pedagógicas que privilegiem a ação durante o processo de desenvolvimento cognitivo. Dentre essas metodologias, uma das mais conhecidas é a Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP ou PBL, do inglês, Problem-based Learning), que pode ser definida como uma "estratégia pedagógica que apresenta aos estudantes situações significativas  e contextualizadas no mundo real" (Mayo, Donelly, Nash & Schwartz, 1993).

Dessa forma, é preciso também promover a participação dos alunos nas decisões e relações que permeiam a vida escolar. Exemplos são as Assembleias escolares, os Grêmios estudantis, mediação e resolução de conflitos e estratégias de aproximação entre escola, família e comunidade.

Fonte: Portal Geledés
Nesta última, cabe aqui citar uma pesquisa realizada pela Profª Valéria Arantes da USP, sobre a Educação Comunitária e as Questões de Gênero na escola.
Neste caso, foi feito "um projeto de intervenção e investigação cujo principal objetivo foi desenvolver projetos e ações que privilegiassem a construção de valores ancorados em fundamentos de ética, direitos humanos e na igualdade de direitos e deveres entre homens e mulheres em situações de conflitos de gênero".
Esta pesquisa levou à intervenção no cotidiano da escola e de suas relações com os conteúdos educativos e com a comunidade, visando promover a compreensão das situações de conflito de gênero. Apesar das frentes de investigação serem realizadas por pesquisadores, percebe-se neste projeto que grande parte do trabalho de campo, mapeamento dos conflitos, troca de experiências e busca de soluções foi realizada pelos próprios alunos da escola em que foi feita a pesquisa.
No início do trabalho, foi diagnosticado que os conflitos causados por questões de gênero deveriam ser resolvidos por meios não-morais e até mesmo "mágicos" (transcendendo a intervenção humana), enquanto uma pequena parcela buscava soluções morais, baseadas em princípios de igualdade e justiça.
O trabalho de campo, o tempo de contato com os alunos e com a comunidade e os esclarecimentos sobre questões de gênero, moral e legislação levaram à comunidade uma real intervenção, pois esta não pode ser feita em pouco tempo e sem o conhecimento do meio social que se pretende pesquisar e intervir. Felizmente, ao final do projeto, pôde-se perceber uma inversão de valores, na qual a solução dos conflitos apontavam atitudes baseadas em princípios morais e justos.

Assim, a ação dos pesquisadores e dos estudantes levou à interferência na realidade da sociedade local, privilegiando o protagonismo juvenil na participação da vida escolar e comunitária.

Eduardo Carvalho
Pólo de Praia Grande

Saúde na escola, é saúde do professor

Informações baseadas nas vídeo-aulas do Prof. Li Li Min e da Profª Paula Fernandes (Unicamp), para o curso de Especialização "Ética, valores e cidadania na escola" (EVC - USP/Univesp).

Dentre as principais causas de morte nas faixas etárias mais jovens, a maior parte se refere a fatores externos, o que dificultam as ações pontuais, devido à inexatidão ao se definir tais fatores. Porém, entre o grupo dos idosos, é certo que a principal causa dos óbitos refere-se à problemas cardiovasculares. Dessa forma, torna-se importante cultivar hábitos saudáveis na juventude; e aqui se encontra mais um dos papéis da escola na formação humana de nossos educandos.

Nos dias atuais, percebem-se problemas de saúde que não são recentes, mas agora estão mais visíveis e em maior quantidade. Por exemplo, a má alimentação, com falta de nutrientes e excesso de compostos nocivos a longo prazo, estão causando  distúrbios alimentares ainda na infância; assim como as exigências da sociedade e controle da mídia no que diz respeito à beleza estão fazendo aumentar os casos de anorexia nervosa, principalmente entre as adolescentes.
Da mesma forma que esses fatores se fazem presentes devido aos modos de vida contemporâneos, é preciso rever alguns deles em novas abordagens, principalmente no que se refere à afetividade e a sexualidade, pois, vividas sem orientação, aumentam os casos de DSTs e - mais presente no cotidiano escolar - a gravidez na adolescência.
Ao se preocupar com a saúde na escola, também é necessário prestar atenção à ampliação das formas de violência escolar, seja ela praticada de forma física ou psicológica (casos de bullying) ou até mesmo situações de porte de armas entre os alunos, bem como a distribuição e o consumo de substâncias psicoativas ("drogas") entre os estudantes.

Todos esses problemas ainda sofrem interferência de abordagens por parte dos meios de comunicação (que influenciam o comportamento de alunos e seus pais), do stress gerado mesmo na infância pelo excesso de atividades e cobranças e, mais recentemente, casos de depressão entre os mais jovens, fator relevante, mas que às vezes passa despercebido.

Radiografia, de Roberto Weigand
Portanto, cuidar da saúde na escola não se restringe mais a visitas de clínicos, odontólogos ou oftalmologistas, mas também estar atento a fatores que impedem o bem estar físico e mental de nossos educandos. Entretanto, como cuidar da saúde dos alunos se a própria saúde do professor não vai bem?
A profissão docente gera vários desgastes físicos e emocionais que, devido aos compromissos e necessidades do ser humano professor, são deixadas de lado ou apenas remediados para se suportar mais um dia de trabalho. É neste ponto que se encontra a dificuldade em manter a saúde não só do professor, mas de qualquer pessoa: não fazer exames preventivos, não cultivar hábitos saudáveis e não preservar nosso corpo de injúrias.

Dentre as principais causas de problemas de saúde do professor, estão as que se referem à voz, à postura e ao strees.
A saúde vocal é de extrema importância para o profissional do magistério, por ser o principal instrumento de comunicação com seus alunos. Projetar a voz com mais força para tentar vencer ruídos internos e externos só vão resultar em afastamentos por receita médica. É necessário cuidar da voz o tempo todo, tomando cuidado com a respiração, a projeção (timbre, direção, postura) e articulando bem a fala, como se fosse um alto-falante que precisa ser bem direcionado aos seus ouvintes.
Outra grande reclamação docente origina-se na situação da saúde postural, a conhecida "dor nas costas". Para mantê-la de forma satisfatória, faz-se necessário um alongamento antes das aulas, procurar não usar um ângulo maior que a própria altura para escrever no quadro e sempre preocupar-se em manter uma postura adequada (chamada de fisiológica), dentre outros cuidados necessários a quem passa várias horas em pé e por vezes se curva ou agacha para manter contato próximo com os alunos.
Relacionado também à falta de saúde do professor está o stress, que pode ser definido como a reação do organismo com componentes físicos  e psicológicos; situação que causa medo, confusão ou até certa felicidade. Das três fases do stress (alerta, resistência e exaustão), a gravidade reside quando se chega à última, também conhecida como síndrome de burnout: exaustão emocional, avaliação negativa de si mesmo, depressão e insensibilidade com relação a quase tudo e todos. Das causas para esses males estão a sobrecarga quantitativa, falta de tempo e recursos, além do sistema deficitário do ensino. Entretanto, a principal fonte de stress vem da maneira como as pessoas interpretam e respondem às situações: restaurar a dimensão coletiva do trabalho, manter a calma, controlar a ansiedade, buscar os pontos positivos das situações, focalizar no que pode ser feito, não desenvolver dependências, ser flexível, praticar exercícios físicos, cuidar da própria esfera (pessoal, profissional, acadêmica), colaborar para um ambiente de trabalho agradável, não desanimar e buscar prestígio são dicas de como enfrentar o stress do(a) profissional docente.

Eduardo Carvalho
Pólo de Praia Grande

domingo, 13 de novembro de 2011

A escola e as relações com a comunidade: o Fórum escolar de Ética e de Cidadania

Informações baseadas nas vídeo-aulas do Prof. Ulisses Araújo (USP) para o curso de Especialização "Ética, valores e cidadania na escola" (EVC - USP/Univesp).

O termo "entre os muros da escola" é muito utilizado quando se pretende criticar o já ultrapassado método de ensino baseado num ambiente fechado, com carteiras ou mesas enfileiradas e, na maior parte das vezes, alheio à realidade presente nas localidades em que se encontra a estrutura física de uma unidade escolar.
De acordo com o Prof. Ulisses Araújo (USP), "a escola necessita ampliar os espaços educativos, incorporando os recursos da cidade e, prioritariamente, de seu entorno no desenvolvimento de projetos que contemplem a comunidade como espaço de aprendizagem." Assim, faz-se importante o conhecimento dos problemas e benefícios existentes no bairro, aproximando comunidade e escola, de forma que o conhecimento produzido em seu interior não seja considerado à parte da realidade presente ao seu redor.

Uma das formas utilizadas para aproximar a comunidade é abrir os portões da escola aos finais de semana para promover oficinas, esportes, palestras e oferecer serviços de utilidade pública. É uma prática positiva, mas não pode esgotar-se em si. Se tal prática não levar em consideração o currículo da escola, acaba por se tornar uma espécie de "clube", pois mesmo com a presença de educadores, estas atividades não têm relação com o cotidiano da escola durante a semana.
Dessa forma, uma prática positiva seria oferecer atividades que foram iniciadas em sala de aula e ampliadas para a comunidade ou, num caminho inverso e complementar, atividades podem ser desenvolvidas na escola aberta e posteriormente trazidas à sala de aula, de forma a contemplar a interdisciplinaridade transversal.

Além disso, esse movimento pode ampliar-se ainda mais, com a programação de trabalhos de campo com os alunos nos arredores do bairro. Um passeio com anotações, fotografias, filmagens e outros registros feitos pelos próprios alunos, trazidos à sala de aula para identificar os problemas e discutir formas de interferências positivas, construindo conhecimento, beneficiando a comunidade e incentivando o protagonismo juvenil.
Fonte: webdig
Projetos desse tipo não são fáceis de se planejar e se realizar. Portanto, a escola deve buscar parcerias e promover debates que permitam a ampliação do espaço educativo de maneira democrática e eficaz. Uma prática, nesse sentido, é o Fórum escolar de Ética e de Cidadania  (proposto pelo MEC), que tem como papel essencial articular os diversos segmentos da comunidade escolar e não-escolar, que se disponham a atuar no desenvolvimento de ações mobilizadoras em torno das temáticas de ética, democracia e cidadania no convívio escolar, focando de forma específica quatro eixos de atuação: ética, convivência democrática, direitos humanos e inclusão social.
Sua composição deve ser a mais aberta possível: professores, alunos, funcionários, diretores, familiares, membros da segmentos como igrejas, comércio, saúde, segurança, líderes comunitários etc.
Neste fórum, podem ser propostos temas dos projetos interdisciplinares e transversais, prepar-se os recursos materiais para o desenvolvimento das ações e continuamente avaliar as ações em desenvolvimento. Ações estas que atuam junto à direção da escola e aos membros da comunidade para garantir os espaços e os tempos necessários ao desenvolvimento dos projetos, buscando garantir recursos que permitam a aquisição de materiais necessários e interagindo com especialistas em educação e pesquisadores que possam contribuir com o melhor desenvolvimento das ações planejadas. Ademais, articular parcerias com outros órgãos e instituições governamentais e não-governamentais (ONGs), que possam apoiar as ações do projeto e a criação de propostas, promove o enriquecimento dos trabalhos e incorporam os recursos disponíveis no bairro e até mesmo na cidade.

Eduardo Carvalho
Pólo de Praia Grande

domingo, 30 de outubro de 2011

O fenômeno do Bullying

Informações fornecidas pela Profª Kátia Pupo, em sua vídeo-aula para o curso de pós-graduação semi-presencial "Ética, valores e cidadania na escola" (EVC - USP/Univesp).

O bullying compreende todas as formas de atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem sem motivação evidente, adotadas por um ou mais estudantes contra outro(s), causando dor e angústia, e executadas dentro de uma relação desigual de poder.

Dentre as ações de bullying, podem-se citar humilhações, xingamentos, difamação, constrangimento, menosprezo, intimidação, ameaças, exclusão, perseguições, agressão física, roubo, entre outras formas de violência.
Para tomar atitudes contra essas ações, é necessário ao educador diferenciar as "brincadeiras de mau gosto", pontuais, da prática do bullying, que se define por ações repetidas e intencionais de duração prolongada, sem motivação aparente, em situações de claro desequilíbrio de poder, onde a vítima está na impossibilidade de defesa.
Essas vítimas geralmente apresentam-se com pouca habilidade de socialização, dificuldade de reagir às agressões e com características físicas, comportamento, condição sócio-econômica ou orientação sexual diferente do que os outros alunos consideram aceitável; há também vítimas decorrentes de seus comportamentos hiperativos e impulsivos. Muitas vítimas tornam-se agressores e não pedem ajuda por medo de retaliações ou por não quererem decepcionar os pais.
As pesquisas apontam que os agressores são de ambos os sexos e que geralmente apontam comportamento de desrespeito às normas e dificuldade de lidar com frustração. Mantêm posição de liderança negativa e até mesmo cometem pequenos delitos. Seu desempenho escolar é, na maioria das vezes, regular ou insuficiente; são desafiadores e agressivos, com dificuldade em lidar com figuras de autoridade. Em seus valores há a ausência de culpa e mentem constantemente.
Os agressores também são incentivados pelos espectadores, que apresentam omissão diante de cenas de violência física ou moral de forma passiva - pois têm medo de se tornarem vítimas também - ou ativa, fornecendo apoio moral aos agressores. Essas omissões alimentam a impunidade e contribuem para o crescimento do bullying.
Da mesma forma é caracterizado o Cyberbullying ou bullying virtual, com a diferença do uso dos recursos da internet, tornando seu efeito multiplicador e duradouro. Essa modalidade de violência atrai também pela possibilidade de anonimato, que gera impunidade. Os adolescentes compreendem a faixa etária que mais faz uso do cyberbullying, mesmo que este seja passível de ação penal.
As consequências para o indivíduo vítima de bullying definem-se pela tendência ao isolamento, dificuldade de participar de discussões em sala de aula, queda de rendimento escolar, fobia escolar, mudanças de humor, insônia, sintomas de dor de cabeça e de estômago, irritação, ansiedade e tristeza; maior propensão a desenvolver transtornos afetivos, depressão, anorexia, bulimia, síndrome do pânico, suicídio e homicídio.

Fonte: Projeto Bullying

Diante dessa situação, a escola tem o papel de buscar possíveis intervenções antibullying, com a conscientização, sensibilização da comunidade, criando um ambiente de confiança, solidário e ético, com apoio e proteção às vítimas, além de estabelecer regras e limites claros e, ao flagrar o bullying, aplicar sanções que não permitam gerar o sentimento de impunidade.

Eduardo Carvalho
Pólo de Praia Grande

Práticas de cidadania

Informações retiradas da vídeo-aula da Profª Patrícia Grandino (USP), para o curso de Especialização em "Ética, valores e cidadania na escola" (EVC).

As ações práticas em cidadania exigem que se tenha uma noção da perspectiva psicossocial sobre a realidade social, a iniciar por uma concepção construtivista que compreende tal realidade como construída historicamente e que o sujeito humano a produz e também é determinado por ela. Além disso, a aquisição de conhecimentos dá sentido ao mundo e constitui processo dialético entre a atividade simbólica e a atividade prática.
As implicações da perspectiva construcionista na abordagem psicossocial enfatiza as representações sociais do processo saúde-doença em diferentes grupos ou sociedades. São essas representações que orientam as ações de todas as pessoas. É preciso compreendê-las, bem como compreender o sentido pessoal que cada um atribui às experiências, caso se objetive interferir nas ações.
O reconhecimento do sujeito humano ampliado pela compreensão psicológica emocional, e como  resultado do entrecruzamento das dimensões histórico-cultural, biológica inter e intrapessoal é uma das contribuições da psicologia para o atendimento em promoção de saúde, assim como o reconhecimento das formas de produção de subjetividades que implicam em crenças e determinam posturas e modos de agir nos sujeitos: a relação entre o saber oficial (científico, médico) e o saber popular precisa ser mediado pela compreensão do sentido construído pelo sujeito (e seu grupo) e pelas representações que subjazem a esse saber.

Dessa forma, todo esse conhecimento teórico permite elaborar as etapas para a elaboração de projetos de atenção direta, partindo do reconhecimento, caracterização e contextualização do campo, passando para o estabelecimento de parcerias com comunidades-alvo e seus representantes. Junto a essas lideranças, levantar de forma conjunta as demandas a serem atendidas, e problematizá-las para definição dos temas dos projetos, tornam mais palpável a aplicação prática de ações que visam a cidadania.


Eduardo Carvalho
Pólo de Praia Grande

Estratégia de projetos e a construção da rede

Informações retiradas da vídeo-aula do Prof. Ricardo Pataro para o curso de pós-graduação semi-presencial "Ética, valores e cidadania na escola" (EVC - USP/Univesp).

Ao escolher um tema transversal para trabalhar com os alunos, o desejo de transformá-lo em projeto educacional traz a necessidade de se seguir alguns procedimentos importantes e sistematizá-los em forma de rede.

Na aproximação ao tema quando os alunos fazem seu primiero contato com o conhecimento a ser constrúido, textos, imagens, vídeos, entre outros materiais didáticos, formam o instrumental para que os educando tornem-se capazes de fazer escolhas de temáticas mais específicas que gostariam de estudar.
A partir daí, discussões e reflexões ocorrem para a escolha de uma das temáticas levantadas, e então chega-se à etapa de elaborar as principais perguntas do projeto, a partir dos interesses dos estudantes, sobre a temática específica que foi escolhida.
Quanto ao planejamento docente, o projeto exigirá um planejamento inicial de conteúdos curriculares que serão abordados de maneira transversal. Então, o projeto segue com atividades e pesquisas em busca de respostas às perguntas dos alunos. Todas essas etapas podem ser visualizadas através de uma rede, que promove o registro do percurso das atividades e relações entre as disciplinas curriculares.

Eduardo Carvalho
Pólo de Praia Grande

Diversidade / pluralidade cultural na escola

Informações baseadas na vídeo-aula ministrada pela Profª Daniele Kowalewski (USP) para o curso de Especialização em "Ética, valores e cidadania na escola" (EVC).

A partir da década de 90 do século passado, quando a democratização da educação pública tomou maior relevância, as salas de aula passaram a se configurar com grupos heterogênos e alto grau de diversidade física, cultural, étnica, sócio-econômica, entre infinitos outros tipos que se fazem impossíveis de listar neste texto. Daí a importância da diversidade no âmbito escolar e a construção dos valores para que esta seja contemplada
Fazendo um breve histórico sobre o tema, no que diz respeito às diretrizes criadas no Brasil, pode-se iniciar com a citação da Constituição de 1988 como a primeira legislação de grande relavância que leva em consideração a igualdade de direitos para todos. Em Educação, mais especificamente esta exigência surgiu com a LDB de 1996 (justificando o primeiro argumento deste texto) e mesmo com os PCNs de 1997-98 que sugerem os temas transversais, inclusive um que se define como Diversidade Cultural propriamente dita. Existe ainda as leis de 2003 e 2008 que tornam obrigatórios os estudos de História e cultura africanas e indígenas nas escolas e, mais recentemente, o Estatuto da Igualdade Racial (2010).

Entretanto, este ainda é um tema que está em fase de desenvolvimento, com inúmeras falhas, equívocos e omissões ocorrendo em toda parte, mas que se faz relevante para nossa situação contemporânea e para a construção de uma sociedade mais justa. Apesar dos pontos negativos, sabe-se que as experiência positivas crescem a cada dia em que os educadores e gestores públicos percebem que não é possível fugir desta transformação, a qual como tantas outras, causa impactos e quebras de paradigmas.
Questionamentos sobre o que fazer na escola quanto à temática da pluralidade e se os educadores conseguirão lidar com todas as diferenças (numa crescente progressão geométrica) surgem ao lado de dúvidas que refletem se é possível ensinar sobre o outro, sem torná-lo exótico e, dessa forma, como é possível educar na diferença?

Dúvidas e questionamentos crescem na mesma proporção de ações positivas por parte de escolas, ONGs, empresas e alguns setores do poder público. Faz-se necessário que, mesmo quem já terminou seus estudos, reeduque-se para a diversidade e, assim, a escola torna-se local privilegiado para que os pequenos cidadãos saibam respeitar a si mesmos e aos outros, com a consciência de que, apesar de diferentes, somos iguais em direitos.

Eduardo Carvalho
Pólo de Praia Grande

Questões de Gênero no cotidiano escolar

Informações fornecidas pela Profª Brigitte Haertel, em sua vídeo-aula para o curso de Especialização "Ética, valores e cidadania na escola" (EVC - USP/Univesp).

Dentre os temas transversais propostos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) do MEC, as questões de Gênero têm espaço para serem trabalhadas em Ética, Orientação Sexual e Diversidade Cultural. A escolha do tema pode ser feita levando em consideração a faixa etária dos estudantes, ou mesmo integrar todos esses temas para um estudo mais vasto, sempre com a preocupação de manter um diálogo entre as disciplinas enquanto os temas perpassam suas áreas do conhecimento.

O próximo passo é conhecer os eixos da discussão a ser feita sobre as questões de Gênero. Aqui se pode citar o construcionismo social (vertente da psicologia social que aborda a performance dos sujeitos quando estão desempenhando diferentes papéis) e a socialização de gênero, que diz respeito à aprendizagem; assim, deve-se ter a noção de que o sexo é uma determinação biológica, enquanto a sexualidade é o significado que o indivíduo atribui à essa condição definida geneticamente.
As relações de gênero são representações socialmente constituídas, e as questões de Gênero vêm justamente analisar e criticar tais relações em sociedades nas quais as diferenças entre os sexos são mais ou menos acentuadas.
Luluzinha e Bolinha, personagens criados
por Marjorie Henderson Buell (Marge).

Em nossos objetivos, deve existir a preocupação de que as pessoas podem ser diferentes quanto ao sexo ou à sexualidade, mas iguais em direitos e capacidades. Prestar atenção à práticas do cotidiano escolar que pontuam as diferenças de Gênero - principalmente as que são realizadas de forma inconsciente, como organizar uma fila separando os meninos das meninas - é essencial para a quebra de preconceitos, bem como extender esse combate ao ambiente familar e aplicar atividades que contenham tais questionamentos não só aos alunos e alunas, mas também a seus pais e mães, ou mesmo outro(a) responsável, fazendo-os refletir sobre as relações de gênero da cultura e/ou sociedade em que vivem.


Eduardo Carvalho
Pólo de Praia Grande

Sentimentos e afetos como tema transversal

Texto baseado na vídeo-aula da Profª Valéria Arantes para o curso de pós-graduação semi-presencial "Ética, valores e cidadania na escola" (EVC - USP/Univesp).

Antes de buscar os caminhos para se tratar os sentiementos e os afetos como tema transversal em sala de aula, faz-se necessário relembrar alguns conceitos que já foram tratados em outros textos, a saber: valores, auto-estima e auto-conhecimento.
Sobre os valores, conforme definição já proposta¹, é conhecido que se referem a trocas afetivas que o sujeito realiza com o exterior e surgem da projeção de sentimentos positivos sobre objetos e/ou pessoas e/ou relações e/ou sobre si mesmo. Já a auto-estima está relacionada à construção da auto-imagem, encontrada em nossa consciência, na qual também identifica-se o que cada um sente sobre si mesmo; portanto, é necessário ter auto-estima positiva para se trabalhar valores. Da mesma forma, tomar consciência dos próprios sentimentos e emoções (auto-conhecimento) é essencial para a construção da ética e da democracia escolar, principalmente no que diz respeito a saber identificar essas características nas outras pessoas.

Conhecer esses conceitos, e suas aplicações práticas, torna possível incorporar os sentimentos e afetos no cotidiano de nossas escolas. Isso também é feito transformando-os em objetos de ensino-aprendizagem, ou seja, tais sentimentos e afetos devem fazer parte dos conteúdos e atividades que são trabalhados junto aos alunos. Quando se deseja trabalhar determinados assuntos, de forma transversal, não significa necessariamente que deve ser realizado como um novo conteúdo ou como projeto educacional; isso pode ser feito de forma implícita durante as aulas. As produções dos alunos refletirão seus próprios sentimentos, mesmo de forma inconsciente, e assim os educadores terão em mãos mais uma ferramenta para conhecer melhor seus educandos e contribuir para a formação de cidadãos éticos.

Eduardo Carvalho
Pólo de Praia Grande

¹ Definição do Prof. Ulisses Araújo (USP), em Educação e valores: pontos e contrapontos, 2007, baseado nas teorias de Piaget.

A ética e a cidadania podem ser ensinadas?

Utilizando a vídeo-aula do Prof. José Sérgio Carvalho para o curso de Especialização "Ética, valores e cidadania na escola" (EVC - USP/Univesp), acrescento informações para contribuir no debate.

A simples existência da moral em uma sociedade não significa a presença explícita de uma ética, entendida como filosofia moral, isto é, uma reflexão que discute, problematiza e interpreta os significados dos valores morais
No Ocidente, essa ética ou filosofia moral inicia-se com Sócrates, que perguntava aos atenienses o que eram os valores nos quais acreditavam e que respeitavam ao agir (coragem, justiça, amizade, bem, etc.). Essas perguntas terminavam sempre por revelar que os atenienses respondiam sem ter refletido sobre o que diziam, repetindo apenas o que lhes fora ensinado desde a infância. Ética e moral de uma sociedade referem-se ao seu conjunto de costumes tradicionais e, como tais, são considerados valores e obrigações para a conduta de seus membros. Em Atenas, Sócrates indagava o que eram esses costumes da sociedade, de onde vinham, o que valiam.
Definindo melhor o campo das ações éticas, Aristóteles diz que as ações não são definidas apenas pela virtude e pela obrigação, mas pertencem também à parte da realidade na qual podemos deliberar e tomar decisões: não deliberamos ou decidimos sobre o necessário (eventos e leis da Natureza), pois é independente da ação humana; deliberamos e decidimos sobre tudo o que, para ser e acontecer, depende da vontade e da ação humana.
Assim, à consciência moral de Sócrates, Aristóteles acrescenta a vontade guiada pela razão (vontade racional) como outro elemento fundamental da vida ética. A vontade racional, a deliberação e a escolha dependem de uma virtude presente em todas as outras: a sabedoria prática (ou prudência).
O prudente é aquele que, em todas as situações, é capaz de julgar e avaliar qual a atitude e qual a ação que melhor realizarão a finalidade ética, ou seja, entre as várias escolhas possíveis, qual é a mais adequada para que o sujeito seja virtuoso e realize o que é bom para si e para os outros.

Demócrito e Protágoras (ao centro), de Salvator
Rosa (1663-64).
Trazendo a discussão para o campo da Educação, o Prof. José Sérgio Carvalho (USP) lembra uma questão proposta por Sócrates: se a formação ética é possível, quem tem o direito a formar? Quem é o mestre nas qualidades de cidadão? Por outro lado, como nós professores poderíamos renunciar em formar nossos alunos para as virtudes públicas e privadas? Citando os escritos de Platão sobre um rival de Sócrates, utiliza respostas advindas de Protágoras, concluindo que a ética não é uma disciplina especializada: os valores que guiam nossas condutas são práticas sociais, influenciadas por todo o entorno social. Em Educação, a formação ética de nossos alunos conta com a participação dos professores e da escola, mas não se esgota nela: a igreja, a mídia, a família, entre outros meios sociais, influenciam na formação ética. Dentro do ambiente escolar, ocupar-se com tal formação é uma tarefa de todos os que trabalham na escola. Além disso, não deve ser alocada na grade curricular, mas a ética não se desvincula dos conteúdos ensinados.

Portanto, desde a era Clássica já existia a noção de que as áreas do conhecimentos propostas pela escola podem trabalhar virtudes e valores éticos, sem a necessidade de se criar novas disciplinas a cada nova exigência da sociedade.


Eduardo Carvalho
Pólo de Praia Grande